sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

A riqueza dos outros e a possível (a nossa)

Todos os municípios da Beira Interior estão abaixo do poder de compra per capita médio. O município de Castelo Branco lidera as contas da Beira Interior.

À FRIEZA geralmente atribuída aos números correspondem retratos sociais que traduzem o viver de uma sociedade, o sentir dos dias por entre a realidade que é a desta região, a Beira Interior. Vista ao longe e ao perto, a crueza dos números e das médias apuradas escondem anseios e debilidades, desilusões e algumas pequenas vitórias que se vão levando a cabo, mesmo que esses cabos sejam fustigados por tormentas.

A distribuição da riqueza e o índice de poder de compra concelhio é apenas mais um fiel retrato dessas complexidades. As assimetrias desenham-se entre municípios do litoral e do interior e dentro dessas faixas, há realidades muito próprias que também se impõem. As áreas marcadamente urbanas ascendem nas tabelas do poder de compra e, do outro, a queda dos municípios iminentemente rurais. Aqui, a Beira Interior é também mosaico de contrastes, estando ela, salvo raras excepções, longe da média nacional de poder de compra.

O índice 100 representa a média nacional de poder de compra concelhio. Ou seja, este é o valor-padrão do poder de compra nacional. Todos os municípios da Beira Interior estão abaixo da média nacional de poder de compra – e quando falamos de municípios, falamos, naturalmente, dos seus habitantes. Mas neste desvio ao padrão há municípios e municípios. Há filhos, enteados, ricos (o possível no contexto), pobres e remediados. O primeiro contraste assenta entre a faixa que separa o urbano e o rural. Na Beira Interior há municípios com um poder de compra de menos de metade (!) da média nacional e outros que se aproximam dessa mesma média, situando-se acima dos 90 por cento. Esses municípios são Castelo Branco e Guarda, as duas capitais de distrito. Castelo Branco é o município da Beira Interior cujos habitantes têm maior poder de compra (96,12 por cento da média nacional). Segue-se o da Guarda com 91,7 por cento. A geografia económica da Beira Interior contempla um segundo escalão, com dois municípios da Cova da Beira neste patamar. O terceiro município da Beira Interior com maior índice de poder de compra per capita é o da Covilhã, com 84,14 por cento da média nacional. Abre-se um fosso de 14 pontos até ao Fundão com 70,06 por cento da média nacional. No meio está o município de Almeida, fortemente ligado ao fenómeno da emigração com um índice de 72,9 por cento. Quatro dos cinco municípios da Beira Interior com maior poder de compra são os que concentram mais indústria e serviços, os que têm maior disponibilidade de quadros e as principais instituições de ensino superior. São estes, na essência, os factores que asseguram a supremacia destes indicadores na região.

Os números começam em declínio à medida que este eixo urbano começa a distanciar-se da vista. É uma Beira Interior – a maioria dela – a afastar-se dos índices de riqueza dos maiores municípios da região e – muito mais – da média nacional. Na casa dos 60 por cento estão os municípios de Seia (65,83 por cento), Vila Velha de Ródão (62,78 por cento), Sertã (62,3 por cento) e Belmonte (61,27 por cento). Mais abaixo, na casa dos 50 por cento da média nacional estão Celorico da Beira (55,72), Figueira de Castelo Rodrigo, (54,8), Manteigas (58,49), Pinhel (58,71), Sabugal (51,47), Trancoso (57,32), Idanha-a-Nova (59,17), Penamacor (51,79), Oleiros (51,58), Proença-a-Nova (55,9), Vila de Rei (59,55), Fornos de Algodres (51,92) e Gouveia (58,61). Os concelhos com menor poder de compra, estando mesmo abaixo de metade da média de poder de compra são os de Aguiar da Beira (49,77) e Meda (49,19).

Sub-regiões da Beira Interior entre os piores resultados do País

A PERCENTAGEM de poder de compra é um outro indicador que observa a concentração do poder de compra nos diferentes territórios e já não a média por pessoa. Representa o peso da região no total do poder de compra nacional. E aqui as indicações são bem mais madrastas para a Beira Interior. Do total da percentagem de poder de compra nacional (100 por cento), só os habitantes da região de Lisboa representam quase 30 por cento dessa capacidade. Na Beira Interior não há uma única sub-região que chegue sequer a um por cento. A Beira Interior Sul (Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Penamacor e Vila Velha de Ródão) representa 0,598 por cento do poder de compra nacional. A Cova da Beira (concelhos da Covilhã, Fundão e Belmonte) 0,666 por cento, a Beira Interior Norte (Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, Manteigas, Meda, Pinhel, Sabugal e Trancoso) 0,735 por cento e a Serra da Estrela, (Fornos de Algodres, Gouveia e Seia) tem 0,280 por cento do poder de compra nacional. A sub-região do Pinhal Interior Sul (Mação, Oleiros, Proença-a-Nova, Sertã e Vila de Rei) significa 0,229 por cento do poder de compra nacional.

Segundo o Instituto Nacional de Estatística “dois terços do poder de compra manifestado regularmente no país concentrava-se nas regiões NUTS II de Lisboa e do Norte. Para este resultado, contribuíam de forma mais decisiva as sub-regiões NUTS III Grande Lisboa (28 por cento), Grande Porto (14 por cento) e Península de Setúbal (oito por cento). As sub-regiões que concentravam menos poder de compra localizavam-se no Interior da Região Centro: Pinhal Interior Sul, Serra da Estrela, Beira Interior Sul, Cova da Beira, Beira Interior Norte e Pinhal Interior Norte. Além destas sub-regiões, também o Alentejo Litoral, o Alto Alentejo e o Baixo Alentejo contribuíam, individualmente, com menos de um por cento para o poder de compra nacional”.

Índice de poder de compra per capita nos municípios da Beira Interior

Média Nacional (100)

1- Castelo Branco (96,12)
2 - Guarda (91,70)
3 - Covilhã (84,14)
4 - Almeida (72,90)
5 - Fundão (70,06)
6- Seia (65,83)
7 - Vila Velha de Ródão (62,78)
8 - Sertã (62,23)
9 - Belmonte (61,27)
10 -Vila de Rei (59,55)
11 - Idanha-a-Nova (59,17)
12 - Pinhel (58,71)
13 - Gouveia (58,61)
14 - Manteigas (58,49)
15 - Trancoso (57,32)
16 - Proença-a-Nova (55,90)
17 - Celorico da Beira (55,72)
18 - F. Castelo Rodrigo (54,80)
19 - Fornos de Algodres (51,92)
20 - Penamacor (51,79)
21 - Oleiros (51,58)
22 - Sabugal (51,47)
23 - Aguiar da Beira (49,77)
24 - Mêda (49,19)

Autor: Nuno Francisco in "Jornal do Fundão"

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