quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Portugal Voluntário em Salvador e Aldeia do Bispo

Um fim-de-semana a ajudar os outros

São jovens, chegam de Lisboa e de tempos a tempos viajam rumo ao interior para trabalhar com crianças e idosos. Foi o que aconteceu no último fim-de-semana em duas aldeias do concelho de Penamacor.

O Natal chegou mais cedo ao centro de dia da aldeia de Salvador. E veio numa manhã de domingo, trazendo não um mas oito pais natais, que deram outra cor ao dia cinzento e chuvoso. A manhã, que normalmente seria passada à lareira, é de música e dança para os idosos que se encontram diariamente no centro de dia da Misericórdia penamacorense. Dança-se o “mata aranha”, canta-se o “apita o comboio” e até se faz fila a imitar o dito.

A animação está a cargo de um grupo de jovens estudantes e trabalhadores que integram o projecto Portugal Solidário, uma organização de inspiração cristã que nasceu há sete anos em Lisboa, com um grupo de voluntariado virado para o continente africano. Depois surgiu a ideia de trabalhar no interior de Portugal, primeiro no concelho alentejano do Redondo e a partir de 2006 em Penamacor. Trabalham sobretudo com idosos e crianças, sendo que os mais novos são cada vez mais raros nesta como noutras aldeias.

Aldeia do Bispo e Salvador foram escolhidas para receber as iniciativas. No caso de Salvador chegaram a ser aconselhados para não trabalharem na aldeia, porque iria ser difícil. Mas o aviso teve o efeito contrário, conta Sara Medeiro, uma das dirigentes do Portugal Voluntário. Não se arrependeram.

“No Salvador começou muito bem, porque os jovens vão um pouco por novidade (…) quando voltaram cá a seguir ao primeiro projecto eles tinham aberto uma biblioteca por sua iniciativa”, diz Ana Costa, outra das dirigentes do Portugal Voluntário.

Em aldeias onde os dias passam sem grandes novidades houve no entanto alguma desconfiança inicial “mais da parte dos idosos que das crianças”. Os casos de burlas que frequentemente são notícia estão na base desse receio, mas a confiança foi ganhando terreno com a ajuda de quem trabalha nas instituições de apoio social.

“Como a maior parte recebe em casa a comida do centro de dia eles acabam por saber de nós pelas senhoras do centro de dia”, diz Ana Costa.

Depois de ganharem a confiança as coisas mudam de figura. “Eles abrem-nos a casa, oferecem-nos lanche e estamos lá um quarto de hora ou vinte minutos à conversa”.

Ouvem histórias de vida – às vezes repetidamente – mas escutam como se fosse a primeira vez. E isso faz muita diferença para quem vive sozinho.

“Eles sentem-se muito abandonados (…) os filhos dos idosos com quem nós trabalhamos vão trabalhar para fora ou emigram”.

Desses dois dedos de conversa ficam também as histórias de um tempo que já passou, e que contando nem parece verdade para quem nasceu mais recentemente.

“A vida deles é um bocado impressionante. Há um senhor aqui, que é o senhor Joaquim, que trazia a água para a aldeia todos os dias e agora está agarrado a uma cadeira porque já não se consegue mexer”, diz Sara Medeiro.

É com estes relatos guardados na memória que regressam a Lisboa, com vontade de voltar às aldeias e cumprir o lema que alimenta o grupo: “dar de graça o que de graça recebemos”.

Autor: José Furtado in jornal "A Reconquista"

Ficheiro aúdio - Sara Medeiro e Ana Costa

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