quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Dias de angústia em Vale da Senhora da Póvoa

Senhora da Póvoa voltou a casa

A imagem venerada na aldeia do concelho de Penamacor foi furtada e andou desaparecida durante dois dias. No regresso os sinos tocaram a rebate.

A notícia foi recebida com choque no dia da Imaculada Conceição: a imagem de Nossa Senhora da Póvoa tinha desaparecido da capela onde se encontrava. A angústia da população da freguesia de Vale da Senhora da Póvoa, no concelho de Penamacor, durou apenas dois dias. Mas estes foram penosos.

“Foram uns dias muito tristes, se não aparecesse a imagem era um Natal muito triste”, diz Joaquim Capelo, membro da Confraria da Senhora da Póvoa, à saída da missa do último domingo. A imagem que desapareceu não é a antiga, “mas para a aldeia tanto valor tem a nova como a velha”.

O final feliz desta história tem como protagonista António Teixeira. O homem de Quintas do Anascer, uma anexa da freguesia penamacorense de Benquerença, andava pelos campos em redor da aldeia para ajudar a guardar umas ovelhas. No caminho entre o Vale da Senhora da Póvoa e a Senhora da Quebrada um tractor despertou-lhe a curiosidade, sinal que havia por ali gente na colheita da azeitona.

“Calha olhar para o lado e vejo um reflexo (…) quando lá cheguei perto vieram-me as lágrimas aos olhos”, lembra António Teixeira. Foi então que começou a chamar por quem andava por ali à azeitona, que ficaram tão atónitos quanto ele.

“Eles começaram a dizer tu és maluco”, lembra. Mas António Teixeira não estava ali para enganar ninguém. A Senhora da Póvoa repousava de facto ao lado de um pinheiro de pequeno porte, a poucos metros da berma da estrada. Ligaram então a um conterrâneo que trabalha no tribunal, que fez chegar a notícia à GNR.

Quando a boa nova se espalhou pela aldeia, os sinos tocaram a rebate, conta o padre César Nascimento. O choque do desaparecimento da santa foi-lhe comunicado a caminho da aldeia de Meimão, uma das várias paróquias que tem a seu cargo nos concelhos de Penamacor e do Sabugal. Em 10 anos de sacerdócio nunca tinha presenciado tal acontecimento.

“As pessoas ficaram muito triste e revoltadas”, conta o sacerdote, que sublinha o grande apego que as gentes da aldeia têm à santa que lhe dá nome. O esforço para recuperar a imagem era feito por cada um à sua maneira. As autoridades foram com a investigação para o terreno “ e os que tínhamos fé, rezámos”.

O tempo em que as chaves ficavam na porta é cada vez mais uma imagem do passado, ainda para mais quando nem os símbolos religiosos escapam. “Infelizmente isso está a acontecer e temos de pôr trancas à porta”, lamenta César Nascimento. O pároco de Vale da Senhora da Póvoa espera agora que a investigação vá até ao fim.

A romaria da Senhora da Póvoa é uma das mais conhecidas da região, atraindo gente não só do concelho de Penamacor, mas de outros em redor, como o vizinho Sabugal. “E agora já não é nada, porque antigamente eram três dias de festa rija”, conta Joaquim Capelo, membro da confraria.

Hoje a festa resume-se a um dia: uma segunda-feira. Mas na véspera há missa, para aqueles que não podem faltar ao trabalho.

António Teixeira, que encontrou a imagem da santa após o furto, frequenta a romaria desde tenra idade. Como muitos da sua geração antigamente ia a pé para a capela. Desses tempos ficou o apego a uma romaria, que nas suas palavras, “é uma tradição de toda a nossa vida”.

Autor: José Furtado in jornal "A Reconquista"


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