sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Associação promove Novas Oportunidades



Há vida na escola de Aldeia de João Pires

As crianças deixaram a antiga escola da freguesia, mas ainda se aprende na aldeia do concelho de Penamacor. Hoje os alunos vão dos 18 aos 80 anos.

As noites tal como estão convidam a ficar por casa. Mas em Aldeia de João Pires nem o frio serve de obstáculo a quem quer aprender algo mais. A Associação Solidariedade Sem Fronteiras abriu as portas da sua sede ao Programa Novas Oportunidades e tem alunos a partir dos 18 anos. A mais velha do grupo já conta 80 anos, idade que não tolhe a vontade de tirar a quarta classe, que na juventude ficou à distância de apenas um ano.

“Aparecem desempregados, aparecem jovens que não quiseram estudar no ensino regular (…) e aparecem pessoas para valorização pessoal, porque não puderam estudar na altura em que tinham a idade indicada para a escola”, conta a formadora Raquel Almeida.

Francisco Gonçalves, de 72 anos, é dos alunos mais velhos da turma de Aldeia de João Pires. Na juventude ficou-se pela antiga quarta classe, mas graças ao Novas Oportunidades já fez o 9.º ano e estuda agora para chegar ao 12.º. Para ele o mais importante nem é ter a qualificação. “No meu caso pouca falta me irá fazer, mas é uma animação”, confessa ao Reconquista. Percebe-se o porquê destas palavras, já que na noite em que visitámos a escola havia magusto.

Ao contrário de Francisco Gonçalves há quem deseje realmente uma nova oportunidade de vida, como é o caso de Estela Reis. Aos 39 anos está à procura de emprego e sabe que o 6.º ano que ficou do tempo de escola é insuficiente.

“Com a idade que tenho é mais complicado arranjar trabalho e a ver se com o 12.º as coisas vão melhorar”, diz com a esperança em alta.

Ao contrário do ensino regular, a formação do Novas Oportunidades vive sobretudo da experiência de vida das pessoas. Raquel Almeida diz que os adultos “pensam sempre que vêem aprender só a História e a Matemática”.

Pedro Agapito, da Associação Solidariedade sem Fronteiras, explica que o objectivo da formação é chegar não só aos habitantes da aldeia mas também de localidades vizinhas, como Aranhas, Salvador ou Aldeia do Bispo, de onde vem Estela Reis.

“Achámos que era proveitoso para os habitantes, não só da aldeia mas do concelho”, refere o dirigente da associação. Com isso facilitam também a vida a quem não se pode deslocar até Penamacor ou mesmo a Idanha-a-Nova.

A formação decorre começou há cerca de um ano e meio e acontece na sede da associação, que, ironicamente, fica na antiga escola da aldeia. O espaço necessita no entanto de mais condições para quem quer ensinar e aprender, já que as janelas do edifício estão degradadas e deixam entrar o frio, que por estes dias é gélido. Pedro Agapito diz que a associação está à espera de respostas quanto aos apoios que já foram pedidos para resolver esta questão e aguarda que as coisas se resolvam em breve “para dar melhores condições às pessoas”.


Autor: José Furtado in jornal "A Reconquista"

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