quinta-feira, 15 de abril de 2010

Comprou concertina e casa, agora quer arranjar namorada

Depois de há um ano ter ganho um milhão e setenta e sete mil euros, Rui Vaz Gaudêncio continua em Salvador, a aldeia que o viu nascer. Já comprou uma casa e a concertina com que sempre tinha sonhado.

DEZ de Abril de 2009. No calendário o dia estava marcado feriado (Sexta-Feira Santa), mas seria o sorteio semanal do euromilhões que haveria de tornar a data inesquecível, pelo menos para Rui Vaz Gaudêncio, o homem de 45 anos, sem profissão certa, que de um segundo para o outro, deixou de ser conhecido como “Rui Pelintra” (alcunha pela qual sempre foi tratado devido à sua condição de pobreza), para se tornar no “Rui Milionário”. Os números que naquele dia andaram à roda ditaram que Rui Vaz Gaudêncio, natural da aldeia de Salvador, concelho de Penamacor, que fizera uma aposta de quatro euros, ganhasse 1 milhão 77 mil 922 euros e 89 cêntimos.
“Tinha os cinco números e uma estrela. Percebi que tinha ganho dinheiro, mas nem sabia que era tanto. Só depois é que me disseram que era o segundo prémio”, conta Rui Vaz Gaudêncio quando passa exactamente um ano da data em que a sua vida mudou totalmente, ou talvez não. Afinal, apesar de ter ganho um valor que nunca imaginara ter, Rui Vaz Gaudêncio limitou-se a adquirir uma casa (modesta) na aldeia que o viu nascer e, tal como o JF adiantou na altura, cumpriu o sonho de comprar a concertina que sempre desejou ter.
“Eu nem sei tocar lá muito bem, mas sempre gostei de concertinas. Divirto-me com elas e já tinha tido umas mais pequenas. Nunca tinha comprado uma como esta porque não tinha dinheiro, mas depois quando recebi o prémio fui a Monsanto e escolhi a melhor que havia. Custou-me quase cinco mil euros”, conta, enquanto, à porta da nova casa, exibe o instrumento, que as suas origens humildes nunca lhe tinham permitido ter.
“Eu fazia o que encontrava. Ia para Espanha apanhar fruta ou tratar de animais”, recorda este homem que, até aquela data, nunca tinha tido cartão de crédito, ou conta em instituições bancárias.
“Agora trabalho com dois bancos que me indicaram logo na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. Aliás, eu nem nunca vi o dinheiro ficou logo depositado”, refere Rui Vaz Gaudêncio, que passou a viver dos juros obtidos por esse dinheiro.
“Eu não gasto assim tanto. Nos cafés até gasto menos do que antigamente porque eu gosto de beber, mas tenho medo de me embebedar e perder o controlo. Não posso voltar a perder tudo”, diz, garantindo que nunca ninguém lhe foi bater à porta para pedir dinheiro. “Ajudo a minha família. Tenho quatro irmãos. Eles continuam a trabalhar, mas a vida é difícil por isso vou-lhes dando algum”, refere.
“Quanto aos investimentos para si próprio, Rui Vaz Gaudêncio, que tem enfrentado alguns problemas de saúde, não se mostra muito ambicioso. “Quero ver se compro um carro, mas como ainda não tenho carta, não sei... Pode ser que arranje uma namorada que saiba conduzir”, atira, assumindo que “encontrar uma companheira”, é agora o seu principal desejo. “Sei que tenho de ter cuidado porque há gente que pode mostrar interesse só por causa do dinheiro. Se já tive sorte uma vez, pode ser que ela se repita, mas agora no amor”, atira, este euromilionário, que continua a apostar naquele concurso.
“Não é com a mesma chave porque aquela era da máquina e nem a guardei, mas já ganhei mais duas vezes. De uma vez deram-me dez euros e noutra ainda tive 25 euros”, conta Rui Gaudêncio.
Sorte que não o assusta, nem tão pouco quando se lhe recorda que há quem diga que quem tem sorte ao jogo pode ter azar no amor. “Pode ser que isso mude comigo e que eu ainda arranje uma companheira que goste de mim de verdade”, conclui.

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