quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Beira Interior entre a esperança e a velhice

Quem nasce na sub-região da Cova da Beira (Covilhã, Fundão e Belmonte) tem uma esperança de vida das mais elevadas do País: 79,3 anos. Os casamentos pelo civil ganham terreno. Os óbitos superam largamente os nascimentos. Não há renovação de gerações. Região com maiores índices de envelhecimento do país.


SINAIS do tempo, de um tempo que marca o caminhar de um país e de uma região periférica num Portugal de centralidade litoralizada. Mas que sinais são estes que marcam o quotidiano? Casamos menos, com idade mais avançada e menos pela Igreja. Os primeiros filhos também surgem cada vez mais tarde na linha temporal que vai contemplando outras prioridades e colmatando outras necessidades antes das grandes decisões.
Os casamentos realizados, por exemplo, no concelho do Fundão, em 2008, foram, na sua maioria, pelo civil. Noutro prisma, a sub-região da Cova da Beira (Covilhã, Fundão e Belmonte) é das três do país onde quem nasce tem a maior esperança de vida: 79,34 anos em média.
O envelhecimento da população, esse, galopa livremente, deixando severas pegadas em vastas regiões da Beira Interior, incapaz de renovar as suas gerações. Estas são algumas das dinâmicas e marcas de água da região, retratos sociais e económicos dos dias que por aqui passam. O bom e o menos bom de mão dada. A própria Beira Interior é geografia de diferenças.
A sociedade muda e com ela mudam paradigmas; as alterações cativam a atenção. As realidades em versão passado, presente e futuro.
O presente, por aqui também é despovoamento. Antes de ser o sal, é o saldo da vida. A Beira Interior é, mais uma vez, traída pela frieza dos números, pela subtracção cada vez mais evidente e da incapacidade de renovar gerações que escrevem na linha do horizonte a palavra fim.
Na Beira Interior Norte, que engloba a quase totalidade do distrito da Guarda nasceram, em 2008, 732 indivíduos e foram registados 1.634 óbitos. Na Beira Interior Sul (Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Penamacor e Vila Velha de Ródão) nasceram 540 indivíduos e registaram-se 1.220 óbitos. Na Cova da Beira nasceram, neste período, 667 indivíduos e faleceram 1.149. Na Serra da Estrela (Fornos de Algodres, Gouveia e Seia), nasceram 287 indivíduos e registaram-se 780 óbitos.
Um mundo de contrastes com os saldos positivos entre nados-vivos e óbitos da Grande Lisboa, Ave, Grande Porto, Tâmega, Península de Setúbal e Algarve.

CASAMENTOS
O CASAMENTO em Portugal é realizado cada vez mais tarde e as mulheres têm cada vez o primeiro filho mais tarde. As NUTS III com os valores mais reduzidos de natalidade, em 2008, foram a Serra da Estrela, Alto Trás-os-Montes, ambas com seis nados-vivos por mil habitantes, e o Pinhal Interior Sul com 5,2 nados-vivos por mil habitantes.
Mantendo a tendência que já se verifica há alguns anos, observou-se entre 2003 e 2008 um decréscimo das taxas de fecundidade nos grupos etários abaixo dos 30 anos, por oposição a um aumento em grupos etários mais elevados, tendência reveladora de um adiamento da idade à maternidade. Em 2008, a taxa de fecundidade específica mais elevada verificou-se no grupo etário dos 30-34 anos de idade, superando novamente a taxa observada no grupo etário dos 25-29 anos. A taxa de fecundidade nas adolescentes (dos 15 aos 19 anos de idade) manteve a tendência de decréscimo, atingindo os 16,2 por mil em 2008.
Em 2008, houve 43.228 casamentos, menos 3.101 que em 2007, o que representa 4,1 casamentos por mil habitantes, o valor mais baixo desde 1900. A tendência que se começou a esboçar em 2007, adensou-se em 2008: os casamentos de cerimónias civis suplantaram as de cariz religioso. Dos 43.228 casamentos do ano passado, 55,2 por cento foram civis e 44,4 por cento católicos. Na Cova da Beira celebraram-se, em 2008, 355 casamentos, 29 em Belmonte, 190 na Covilhã e 136 no Fundão. Apenas no concelho da Covilhã a maioria foram católicos (104). No Fundão a maioria das uniões foi realizada pelo civil – 70 em oposição às 66 católicas. Em Belmonte, 14 casamentos foram católicos e 15 pelo civil.
Na Beira Interior Sul, que engloba os concelhos de Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Penamacor e Vila Velha de Ródão, foram celebrados 251 casamentos, 139 católicos e 112 pelo civil. O concelho de Castelo Branco registou 208 uniões, 110 católicas e 98 civis. Penamacor apenas registou 8 casamentos no ano transacto, quatro celebrados pelo civil, quatro católicos.
A norte, o concelho da Guarda teve um registo de 163 casamentos, 116 católicos e 47 civis. Em toda a Beira Interior Norte registaram-se 378 casamentos em 2008, 248 celebrados pela Igreja e 128 pelo civil. Na sub-região da Serra da Estrela celebraram-se 185 uniões, 104 delas católicas e 81 civis. No Pinhal Interior Sul (Mação, Oleiros, Proença-a-Nova, Sertã e Vila de Rei) foram registados 143 casamentos, 83 católicos e 60 civis.

VELHICE
SEGUNDO o Instituto Nacional de Estatística, o índice de envelhecimento é o caracterizador da evolução demográfica recente. Entre 2003 e 2008 o valor deste indicador aumentou de 107 para 115 idosos por cada 100 jovens. O fenómeno do envelhecimento populacional é mais acentuado nas mulheres, reflectindo a sua maior longevidade (94 e 138 jovens por cada 100 idosos, respectivamente para homens e mulheres, em 2008).
As NUTS III onde se observaram índices de envelhecimento mais elevados no país foram: Serra da Estrela, Alto Trás-os-Montes,Beira Interior Norte, Beira Interior Sul e Pinhal Interior Sul. De registar que as sub-regiões do país onde o número mais elevado de idosos por cada jovem estão quase todas na Beira Interior. A excepção é a Cova da Beira, que tem os menores índices de envelhecimento da Beira Interior. O índice de envelhecimento é caracterizador da evolução demográfica recente. Entre 2003 e 2008 o valor deste indicador aumentou de 107 para 115 idosos por cada 100 jovens. O fenómeno do envelhecimento populacional é mais acentuado nas mulheres, reflectindo a sua maior longevidade (94 e 138 jovens por cada 100 idosos, respectivamente para homens e mulheres, em 2008).
Em resultado da esperada redução da percentagem de população jovem e do aumento da proporção de população idosa manter-se-á a tendência de envelhecimento demográfico, pelo que o índice de envelhecimento que em 2008 se situou em 115 idosos por cada 100 jovens poderá atingir, em 2060, um valor de 271 idosos por cada 100 jovens.


FILHOS
NA BEIRA Interior, é a sub-região da Cova da Beira (concelhos da Covilhã, Fundão e Belmonte) aquela onde mais nascimentos se registam fora do casamento. Dos 667 nascimentos ocorridos nesta região, 188 ocorreram fora de união matrimonial. No lado oposto, a sub-região da Beira Interior onde ocorre menos este fenómeno é na sub-região do Pinhal Interior Sul. Nos concelhos de Mação, Oleiros, Proença-a-Nova, Sertã e Vila de Rei, dos 210 nascimentos registados em 2008, apenas 47 ocorreram fora do casamento.
Na Beira Interior Norte, que engloba os concelhos de Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, Manteigas, Meda, Pinhel, Sabugal e Trancoso, dos 732 nascimentos no ano transacto, 165 foram fora do casamento.
Na Beira Interior Sul (Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Penamacor e Vila Velha de Ródão) dos 540 nascimentos, 185 foram fora do casamento.


DENSIDADE
EM TERMOS de população residente, são os três concelhos da Cova da Beira que apresentam a maior densidade populacional da região da Beira Interior. A população estimada pelo INE em 31 de Dezembro de 2008 para a Cova da Beira é de cerca de 90.700 pessoas, o que representa 66 habitantes por quilómetro quadrado.
A Beira Interior Sul tem uma população estimada de cerca de 73.100 habitantes e uma densidade populacional de 19,5 habitantes por quilómetro quadrado.
Nos municípios do Pinhal Interior Sul habitam cerca de 40.400 pessoas, o que representa uma densidade populacional de 21,2 habitantes por quilómetro quadrado.
Nos municípios mais a norte da Beira Interior, os três concelhos da sub-região da Serra da Estrela têm uma população estimada de 47.400 habitantes e uma densidade populacional de 54,6 habitantes por quilómetro quadrado.
Já a Beira Interior Norte tem uma população de 109.100 habitantes, com uma densidade populacional de 26,8 habitantes por quilómetro quadrado.

Autor: Nuno Francisco in "Jornal do Fundão"

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