quinta-feira, 17 de junho de 2010

CONVÍVIO DOS PEDROGUENSES 2010

Uma reflexão à margem do Convívio: um apelo aos jovens

O apelo que deixei exarado no meu “relato” anterior dizia respeito naturalmente aos pedroguenses mais veteranos (e, muito em especial, aos que não estão a residir na nossa terra). Agora e sem querer abusar da paciência de quem porventura o leia, vai este apelo aos (mais) jovens – e concretamente àqueles que fazem a sua vida no Pedrógão de S. Pedro.
Aludi naquele meu “relato e apelo” à banda filarmónica (já extinta) - e acrescento agora que dela provieram alguns bons profissionais da música, tendo um deles feito carreira na prestigiada Filarmónica da antiga Emissora Nacional.
Tive oportunidade de constatar que provém do Rancho Folclórico (de que ainda continua a fazer parte) um elemento que integra igualmente a Tuna Universitária que se exibiu no Convívio. Pela Escola Dr. Augusto Falcão passaram alunos que se vieram a notabilizar no mundo do ensino (professores do ensino superior – universitário e politécnico – , secundário e básico); da medicina; do direito (magistrados, advogados e funcionários dos tribunais); da engenharia; do funcionalismo público; das forças armadas (oficiais, sargentos e praças) e militarizadas (GNR); da PSP e da (antiga) Guarda Fiscal; dos negócios; da construção civil; da pintura, etc, etc. (Que eu saiba ainda não surgiu nenhum Cristiano Ronaldo das hostes da equipa de futebol da Associação, mas ainda não é tarde…).
Ou seja e em resumo: não é pelo facto de o Pedrógão de S. Pedro ser uma terra pequena e sem grandes recursos que não podemos desenvolver os nossos talentos, até porque - felizmente para todos nós! – com o extraordinário progresso que se tem verificado ultimamente em todos os domínios do saber as distâncias e a falta de recursos materiais já não constituem barreiras que não possam ser ultrapassadas pela força do nosso querer.
Dir-me-ão: mas, pela escassez de mercado de trabalho e de condições, só saindo da terra, como muitos fizeram, é que se conseguirão melhores oportunidades. E, se calhar, em alguns casos, assim será. Mas porque o “bichinho” se começa a desenvolver dentro de nós nos tempos da nossa meninice, e porque ninguém sabe o dia de amanhã, o meu apelo (aos mais jovens) vai precisamente nesse sentido: para que aproveitem as condições que hoje lhes são proporcionadas (as possíveis, que não talvez não as ideais nem as mais desejadas) para incrementarem as vossas reais potencialidades.
E, porque ninguém consegue sozinho resolver todos os problemas, creiam que ajuda bastante o trabalho em grupo: organizem-se e participem nas actividades colectivas (seja de índole desportiva, recreativa ou cultural) e não deixem extinguir as tradições nem o que de bom existe (como o Rancho Folclórico).
Mais tarde recordarão com saudade esta fase da vossa vida e reconhecerão como lhes foi muito proveitosa e que foi à custa das dificuldades que porventura possam ter de enfrentar que robusteceram a vossa personalidade e a construção do vosso futuro.
Autor: Manuel Martins dos Reis
Retirado daqui.

2 comentários:

vatf disse...

O apelo aqui deixado pelo senhor Manuel é válido, sincero e sentido. No entanto, as condições de fixação de jovens na nossa terra e no nosso concelho estão longe de ser as melhores. De todos os ilustres alunos que passaram pela nossa escola, quantos, na realidade, ficaram pela nossa aldeia? Muito poucos. Todos partiram em busca de algo melhor. As acessibilidades, hoje em dia, são muito melhores, mas no entanto, as pessoas que se encontram fora da terra, apenas regressam de mês-a-mês, ou de festa em festa.Falta fazer muito para conseguir fixar a população, não só no Pedrógão, como em quase todo o interior. Uma casa não se inicia pelo telhado, e antes de querer que os jovens se fixem na terra, deveria-se pensar em criar condições para que os seus pais aí possam residir, e isso está longe de ser uma realidade. Infelizmente... para todos.

Manuel Martins dos Reis disse...

COMENTÁRIO AO COMENTÁRIO

Foi com indizível satisfação que li o comentário do Senhor Valder António infra, a quem peço licença para retorquir.
E, em primeiro lugar, para lhe manifestar o meu agradecimento pelo seu interesse e pelo profundo significado do seu conteúdo.
Concordo inteiramente consigo: uma casa não se começa a construir pelo telhado. Mas as fundações e a estrutura já me (nos) ultrapassa, pois dependem de factores geográficos, económicos e humanos que ou a Natureza os dá ou a Política os proporciona. E, se a Natureza foi avara, a Política também não tem sido muito pródiga.
Restam-nos as pessoas – riqueza maior do Universo – e as suas potencialidades para colmatarem tais carências.
Da constatação dessa elementar realidade, a razão de ser dos meus dois “apelos”: o primeiro, dirigido aos pedroguenses que lutaram para se valorizar fora da terra (onde - tal como agora - não teriam conseguido obter a sua formação académica e/ou profissional nem nela a poderão exercer cabalmente), no sentido de não esquecerem as suas raízes e de contribuírem para que a tradição se não apague; o segundo, orientado para os jovens (e não só) que na terra perseveram na sua lide constante, para que se unam e enfrentem em conjunto as vicissitudes da vida e não deixem morrer as tradições.
O Pedrógão de S. Pedro é um retrato em miniatura do estado do País (ou do Mundo, se se preferir): escasso em recursos (humanos e materiais). Para sobreviver, tem de os procurar onde eles existirem.
Toda a gente sabe que grande parte dos nossos “cérebros” tiveram (e têm) de ir para o estrangeiro para se valorizarem e afirmarem. Será, assim, de estranhar que tal se verifique na nossa terra – sobejamente reconhecida como fornecedora de emigrantes para as mais variadas regiões do Mundo?
Que permaneça, apesar dessa iniludível evidência, o indelével carinho e amor pela terra que nos deu o ser. E que quem puder (quer os residentes habituais, quer os meros visitantes de ocasião), contribua, na medida das suas possibilidades, para manter acesas as tradições da nossa infância, que nos acompanharão para sempre.
Estes os meus votos, que creia são muito sentidos e sinceros.
Manuel Martins dos Reis