quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Quando o silêncio chega para nos reclamar o lugar

A Beira Interior não se consegue renovar. Os óbitos superam largamente os nascimentos. Há municípios onde não se chega a 20 nascimentos num ano. E o saldo migratório continua negativo.

O SILVO
do despovoamento ergue-se por entre a imensidão da Beira Interior, que começa a parecer demasiado grande para os que cá estão. O silêncio trespassa horizontes, a mudez cala o tempo que vai e que colhe gente a este solo. É do alto desta pirâmide temporal que se assiste à erosão demográfica. É desta linha de horizonte que outras se vislumbram, onde se perscrutam os silêncios por esta imensa geografia, onde se procuram os garrotes que façam estancar esta hemorragia. Entretanto, o austero silêncio ganha o terreno. Ano após ano. Dia após dia.

O Instituto Nacional de Estatística (INE) lançou terça-feira o estudo sobre as estatísticas demográficas relativas a 2009. Por toda a Beira Interior o cenário foi de perda em relação aos dados de 2008. Continua o sentido descendente, com distintas resistências ao embate.

No Pinhal Interior Sul (concelhos de Mação – este pertencente ao distrito de Santarém –, Oleiros, Proença-a-Nova, Sertã e Vila de Rei) estava contabilizada uma população de 39.805 habitantes, uma quebra de 602 pessoas em relação a 2008. À Serra da Estrela (Fornos de Algodres, Gouveia e Seia) o INE estima uma população de 46.969 indivíduos, que traduz uma perca de 446 habitantes. Na Beira Interior Norte (Almeida, Celorico da Beira, Figueira de Castelo Rodrigo, Guarda, Manteigas, Meda, Pinhel, Sabugal e Trancoso), o cenário é também de perda: 108.006 habitantes, menos 1.045 face à projecção de 2008. Na Beira Interior Sul (Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Penamacor e Vila Velha de Ródão), a população fixou-se nos 72.471 habitantes, uma perda de 667.

A Cova da Beira (Covilhã, Fundão e Belmonte) a população estimada para final de 2009 é de 90.073 pessoas, uma quebra de 628 habitantes relativamente a 2008. No total, a perda por toda a Beira Interior é superior a três mil habitantes.

A grande contribuição para o severo decréscimo é o saldo natural negativo e não os fenómenos migratórios, como à partida se poderia supor. A diferença entre nascimentos e óbitos é abissal. A não renovação das gerações não é compensada, de forma alguma, por capacidade de captação de população. Pelo contrário, em quase toda a região o saldo migratório também é negativo.

Na Beira Interior Norte a diferença entre nascimentos e óbitos é de 913. Nesta sub-região nasceram 684 pessoas e faleceram 1.598. Na Beira Interior Sul, a diferença negativa é de 600 (561 nascimentos e 1.161 óbitos) e na Cova da Beira 512 (611 nascimentos e 1.123 óbitos). No Pinhal Interior Sul, em 2009, nasceram 219 pessoas e faleceram 749. No concelho de Castelo Branco nasceram 463 pessoas e foram registados 695 óbitos, na Guarda apuraram-se 363 nados-vivos e 483 óbitos, na Covilhã nasceram 375 pessoas e faleceram 617 e no Fundão nasceram 192 pessoas e foram registados 400 óbitos.

De registar que na região houve vários municípios que não chegaram a assistir a 50 nascimentos: Oleiros (17 nascimentos), Proença-a-Nova (42), Vila de Rei (20), Almeida (25), Figueira de Castelo Rodrigo (37), Penamacor (25), Belmonte (44) e Vila Velha de Ródão (13).

Neste horizonte de quebra de natalidade, a Beira Interior fica, também fragilizada noutro factor: nos saldos migratórios, quase todos eles negativos. Só a sub-região da Serra da Estrela conseguiu ganhar 30 pessoas entre as saídas e as entradas no seu território. O Pinhal Interior Sul perdeu 72 pessoas para além do seu espaço geográfico, a Beira Interior Norte perdeu 132, a Beira Interior Sul 67 e a Cova da Beira 116.

Cova da Beira: a sub-região mais jovem da Beira Interior

Da leitura do estudo do INE, salta a vista o peso da faixa etária dos cidadãos com mais de 65 anos na estrutura demográfica da região. Onde este fenómeno é mais evidente é no Pinhal Interior Sul, onde 30,3 por cento dos seus habitantes têm mais de 65 anos, o valor mais alto no país. No reverso da moeda lê-se, também, que é neste espaço geográfico que há menos população com idade até aos 14 anos: 10,3 por cento do total dos seus habitantes. Também recorde negativo a nível nacional. Ou seja: por cada habitante com idade até aos 14 anos há três com mais de 65 anos. É na sub-região da Cova da Beira que se encontra a população mais jovem da Beira Interior: 12,2 por cento da sua população tem até 14 anos e 22,8 por cento tem mais de 65.

Na Beira Interior Norte celebraram-se 381 casamentos e dissolveram-se 882, 717 por morte e 165 por divórcio. A Sul, celebraram-se 263 casamentos e dissolveram-se 679, 505 por falecimento e 174 por divórcio. Na Cova da Beira registaram-se 309 casamentos e 711 dissoluções, 517 por morte de um dos conjugues e 194 por divórcio.

Este é apenas o esboço de um retrato. O nosso.

Autor: Nuno Francisco in "Jornal do Fundão"

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