quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Penamacor: Violência e emoções à mesa da sala de aula


O dia dos namorados não se faz apenas de corações, poemas e prendas. Num dia em que se fala de amor, um grupo de alunas do Agrupamento de Escolas Ribeiro Sanches, de Penamacor, propõe uma reflexão sobre o tema da violência nas relações. O colóquio que vai juntar na mesma sala um antigo agressor e uma vítima de violência doméstica é apenas uma das actividades de um trabalho no âmbito da disciplina de Área Projecto.
O projecto "Quem cala consente" está a ser desenvolvido por quatro alunas do 12.º ano, que desde o inicio do ano estão a estudar o fenómeno da violência nas relações. Uma realidade que não acontece apenas dentro do casamento. Em 2008 um estudo da Universidade do Minho, com base em inquéritos a 4730 jovens, concluiu que um quarto já tinha sido vítima de violência por parte dos namorados. Na Ribeiro Sanches não há estudos sobre a matéria, mas existe a noção do problema.
"Toda a gente pensa que a violência é entre o homem e a mulher e não é bem assim. Cá na escola nós temos a percepção disso", diz Dalila Pelicano, uma das jovens envolvidas no projecto. Mas a violência também é psicológica, com palavras que doem mais que um estalo, exemplifica a jovem.
O "Quem cala consente" está presente na internet através do blogue http://quemcalaconsente12a.blogspot.com/ e do sitio http://www.wix.com/quemcalaconsente/accd. Os espaços são utilizados para divulgar artigos, poemas e outro material relacionado com o tema, bem como as actividades que vão sendo desenvolvidas.
Cláudia Salvado, outra das jovens envolvidas no trabalho, admite que o tema da violência nas relações não foi a primeira, nem sequer a segunda opção na altura de começar a trabalhar, mas acabaram por agarrar o tema com unhas e dentes. A primeira das actividades aconteceu em Novembro, com uma largada de balões para assinalar o Dia Internacional da Eliminação da Violência contra a Mulher. Em preparação estão também duas feiras, cuja receita reverte para uma associação de apoio à vítima.
No outro lado da sala o tema em estudo é a inteligência emocional. O conceito é ainda difícil de explicar, mas Rita Barreiros arrisca. "É para ver se devemos pensar antes de agir, ou então agir racionalmente ou consoante as emoções", diz a aluna. O grupo dedica-se a estudar a maneira como as pessoas se relacionam entre si e como surgem os desaguisados.
Patrícia Leitão, uma das colegas, diz que muitas das vezes há mal-entendidos "que causam conflitos e acabam-se amizades assim". O alvo são os alunos do 5.º e do 6.º ano, a quem tenta explicar tudo isto com recurso a jogos e outras maneiras de passar a mensagem mais adequadas à idade.
A psicóloga Helena Duarte, que esteve pela primeira vez com este grupo de alunas do 12.º ano, diz que o trabalho está no bom caminho.
"Fiquei surpreendida, até porque é uma área que não é muito conhecida", confessou ao Reconquista.
Os trabalhos integrados no Área Projecto estão a ser desenvolvido em colaboração com a Cáritas Diocesana da Guarda, no âmbito de uma iniciativa transfronteiriça que em Portugal envolve escolas de quatro concelhos dos distritos de Castelo Branco e da Guarda.
Paulo Neves considera importante aprender o Português ou a Matemática, mas para ele também é necessário dar aos jovens o conhecimento da realidade envolvente.
"O grande objectivo deste projecto é contribuir para que os alunos, o resto da comunidade e até o país conheçam melhor este território e que isso consiga promover algum desenvolvimento local", diz o responsável da Cáritas da Guarda, que está a trabalhar com as congéneres espanholas de Ciudad Rodrigo e Salamanca.
Os trabalhos destas alunas de Penamacor, mas também do Sabugal, Almeida e Figueira de Castelo Rodrigo, vão ser apresentados em todos os concelhos e para o mês de Maio está previsto um encontro para o qual estão a ser convidadas personalidades destes concelhos que dão cartas a nível nacional.
Este trabalho só é possível porque existe uma disciplina chamada Área Projecto, que o Ministério da Educação decidiu extinguir no final deste ano lectivo. António Canoso, o professor que coordena os trabalhos na Ribeiro Sanches, lamenta o desfecho.
"É um erro acabar com ela, porque aqui tinham possibilidade de desenvolver actividades fora das disciplinas", diz o professor.
Helena Pinto, a presidente do Agrupamento de Escolas Ribeiro Sanches, também lamenta o fim da Área Projecto, lembrando que em Penamacor tem sido aproveitada para desenvolver parcerias com outras instituições. Em 2010 uma colaboração com a Adraces, a Associação para o Desenvolvimento da Raia Centro Sul, resultou na elaboração de um DVD sobre o concelho.
Para a responsável pelo agrupamento de escolas penamacorense "é muito importante que os alunos façam trabalhos que possam ser aproveitados e tenham alguma validade no mundo exterior à escola".


In jornal "A Reconquista"

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