segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Três mil pessoas passaram pela Feira do Coleccionismo e do Veículo Antigo

Pai do todo-o-terreno homenageado na aldeia do coração

Cerca de três mil pessoas passaram pela Feira de Coleccionismo e do Veículo Antigo de Águas que José Megre criou e à qual a família promete dar continuidade.

O mundo era a sua casa, mas foi na pequena aldeia de Águas que José Megre foi lembrado. No muro da casa da família está agora um painel de azulejos que recria o mapa-mundo que o pai do todo-o-terreno em Portugal traçou durante a vida. Uma vida em que só faltou ultrapassar a fronteira do Iraque.
O painel da autoria de Henrique Cruchinha d´Almeida foi a maneira encontrada pela Câmara Municipal de Penamacor para homenagear o fundador do Clube Aventura, que há um ano abriu pela primeira vez as portas da propriedade da família para mostrar os veículos, brinquedos e outros objectos coleccionados ao longo da vida. José Megre faleceu em Fevereiro deste ano mas a Feira de Coleccionismo e do Veículo Antigo voltou, agora pela mão do filho.
“A única coisa que me motivou foi o respeito e a consideração ao meu pai e tudo o que ele construiu (…) achei que era um bocadinho o meu dever continuar, custasse o que custasse”, diz Ricardo Megre ao Reconquista. Quem ajudou o pai há um ano não negou o apoio ao filho, que a poucas horas do encerramento se mostrava feliz com a resposta dos visitantes. Que foram pelo menos três mil, já que os locais não pagaram entrada.
“Fico bastante satisfeito cada vez que sou abordado e principalmente pelas pessoas aqui do concelho de Penamacor, que me têm sensibilizado bastante”. Amor com amor se paga - lá diz o ditado. E no caso de Águas a relação de José Megre com a aldeia era próxima. De tal modo que repousa no cemitério da localidade. “Esta era de facto uma aldeia perdida aqui no Interior mas o que é facto é que de ano para ano já muita gente sabe o que é o concelho de Penamacor visto o meu pai ter trazido aqui a passagem do rali Transibérico e criado esta feira”, lembra o filho.
A história de José Megre é indissociável dos automóveis. A começar no Vespa 400, o pequeno carro azul-bebé que foi um dos primeiros que conduziu e que descansava à sombra das árvores da quinta, entre os míticos Citroen 2 cavalos e Trabant. Mas em Águas também está o jipe UMM que Megre conduziu na sua estreia pelos trilhos do Paris-Dakar, em 1982. Cada carro dará certamente uma história e estas vão ser publicadas dentro em breve no livro “Como eu vi todos os países do mundo (menos um)”, que deverá ser apresentado no final do próximo mês. O projecto foi iniciado por José Megre e chega agora ao fim pela mão da família e dos amigos. O livro, diz o filho Ricardo, é um incentivo a todos os viajantes para que tentem conhecer o mundo de maneira diferente, não ficando apenas pelo hotel.
Antes de partir, José Megre fazia o trabalho de casa. “Ele era uma pessoa que se documentava bastante antes de avançar com um projecto”, conta o filho. Nas prateleiras de casa não faltavam livros sobre os países que tinha na mira, que a organização juntou este ano num novo espaço da quinta. Lá também era possível apreciar as máquinas fotográficas e de escrever com que documentava as experiências e outros objectos pessoais, como os que ficaram da sua passagem pelos Comandos.
Para continuar. A família mantém a vontade que José Megre manifestou em vida de dar continuidade à feira. Ricardo Megre quer mesmo abrir as portas da quinta para além da feira, nomeadamente os espaços do lagar de azeite, o museu do brinquedo e a eira onde pela primeira vez foram reunidos os objectos pessoais do viajante. A intenção passa por fazê-lo em épocas de maior afluência ao concelho, como o Natal, a Páscoa e outras datas. A Câmara Municipal de Penamacor também se mostra receptiva à ideia.
“É difícil encontrar um homem com a génese do engenheiro José Megre e aquilo que nós queremos é continuar a colaborar com a família”, referiu o presidente Domingos Torrão na inauguração do painel de homenagem.

Autor: José Furtado in jornal "A Reconquista"

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