sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Vale a pena conhecer

Adília Lopes, com origens em Penamacor

A partir de hoje iniciamos a publicação, da responsabilidade de Elsa Ligeiro, sobre personalidades da Beira que Vale a pena conhecer.
Conheci a Adília Lopes num encontro de poesia, em Vila do Conde, organizado pelo Valter Hugo Mãe, há cerca de 12 anos.
Ela, no seu profissionalismo exemplar, tentava dar à plateia mais do que ela estava preparada para receber. Citava Sophia à velocidade da luz, e repetia com a serenidade que sempre lhe conhecemos, experiências tão revolucionárias como a reprodução sexual das pedras.
Devo confessar que naquela tarde ri tanto como nos melhores filmes do Woody Allen. E esta associação não tem nada de inocente. Pois se há uma figura que associo à Adília é o W. Allen, sempre a comentar a sua vida tão vulgar e impossível que só por milagre é igual à nossa.
A única diferença é que a Adília Lopes é uma poeta, como ela muito bem explicou numa brilhante crónica de domingo do Público (17 de Junho 2001).
E uma poeta é a que consegue o impossível, com o esforço concentrado e aplicadíssimo na direcção certa. Daí, na primeira actividade da Alma Azul, em 1999, no TAGV, de Coimbra, ter escolhido a Adília Lopes para substituir o António Lobo Antunes que, numa birra muito comum nele nos anos noventa, recusou conversar com a Anabela Mota Ribeiro.
Acabou por ser o momento mais alto duma semana cheia de notáveis - entre eles, o admirável Ferreira Fernandes - acabando com a Adília seduzindo a sala cheia do foyer do TAGV, com as suas ideias e opiniões, e com a Anabela Mota Ribeiro completamente rendida à inteligência da poeta.
Há um amigo meu, também ele poeta, que sustenta que a Adília Lopes é um produto dos media. Sem qualquer consistência, que o seu único interesse é (foi) a excessiva exposição pública. Nada mais longe da realidade, Adília Lopes tem é a sabedoria dos que têm um pacto com a verdade. E o que espanta na obra da Adília Lopes é a eficácia do caminho que utiliza: o minimalismo poético, muitas vezes o aforismo, cheio de sabedoria popular. Desconstruindo com alegria o pomposo discurso literário. Seguindo Sophia, ela também quer conhecer todo o fenómeno do mundo. E a sua aparente segurança vem da honestidade com que enfrenta a mais delicada situação.
Acredito que o instinto de sobrevivência, notável em todos os grandes criadores, aguçaram o engenho da Maria José da Silva Viana Fidalgo na criação de Adília Lopes. Mas, com generosidade, a Adília paga à Maria José com a melhor das moedas: a honestidade.
Às vezes brutal e suicida, completamente fora deste nosso tempo em que todos preferimos fingir. Especialmente no nosso espaço mais importante: o quotidiano.

PS – Leitura recomendada “Adília Lopes – Obra”, ed. Mariposa Azual 2000
Autora: Elsa Ligeiro in jornal "A Reconquista"

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