quinta-feira, 25 de março de 2010

Instituto nasceu em Penamacor há quase 60 anos

Uma vida a olhar pelas crianças

O Instituto Pina Ferraz acolhe crianças e jovens em risco, que têm nele o lar que não encontram na família biológica. Os responsáveis defendem que é preciso trabalhar junto das famílias para que estas assumam o seu papel.

O portão e a “muralha” são bem conhecidos dos penamacorenses, mas apostamos que serão poucos os que sabem como é o dia-a-dia ou a missão do Instituto Social Cristão Pina Ferraz. A instituição fundada por Carlota Pina Macedo e Ornelas, que desde 1952 acolhe menores em risco, é hoje a casa de 25 crianças e jovens. São sobretudo rapazes, mas as raparigas também são acolhidas porque pretende-se evitar a separação de irmãos e irmãs.

João Frazão é o rosto da instituição há mais de 40 anos, tempo suficiente para ver muitas crianças passarem à condição de adultos e presenciar as mudanças que o tempo impôs à sociedade.

Vocacionado para receber menores do concelho, o Instituto Pina Ferraz começou a acolher jovens de outras origens, à medida que as carências a nível local iam diminuindo. Mesmo assim os menores do concelho de Penamacor são hoje cerca de metade dos protegidos e quatro vieram de fora do distrito.

Os estatutos dizem que a instituição pode apoiar todas as faixas etárias, mas a vocação está nas crianças em vez dos idosos “até porque a vila de Penamacor estava bem coberta nessa parte com a Misericórdia e o Lar D. Bárbara Tavares da Silva”, explica João Frazão.

Os menores chegam ao instituto pela mão da Segurança Social, tribunais ou comissões de protecção de crianças e jovens. As situações que os levam até lá são fáceis de imaginar.

As vagas são geridas em colaboração com o centro distrital de Segurança Social, explica a directora técnica do lar.

“Existem orientações para que os jovens não sejam deslocalizados e fiquem mais perto da sua área de residência, para que possam manter os contactos com a família biológica”, diz Silvia Machado. Essa proximidade é também útil para que os técnicos possam trabalhar com as famílias, preparando-as para, caso seja possível, receberem de volta as suas crianças. Mas esta vertente é ainda pouco explorada.

“Há uma certa falta de coordenação entre tudo isto, porque por um lado quer-se que o acolhimento seja o mais curto possível e que a criança possa regressar para o seu meio natural de vida. Por outro lado, se o meio natural de vida não for trabalhado ela não pode voltar em tão pouco tempo como seria desejável”, explica Silvia Machado.

Quando o regresso à família biológica ou a ajuda dos padrinhos deixa de ser uma opção viável entram em campo alternativas como a adopção ou a preparação para a autonomia, dando neste último caso aos jovens perto da idade adulta as condições para que possam decidir a sua vida. Isto acontece, por exemplo, a partir dos 13 anos.

Dentro da instituição o esforço passa por proporcionar uma vida tão normal quanto possível. Os rapazes e raparigas do Instituto Pina Ferraz estudam nas escolas do concelho, praticam desporto no clubes locais, andam nos escoteiros, frequentam a catequese e até já houve alunos no pólo da Academia de Música e Dança do Fundão.

Para Silvia Machado “se existe uma protecção excessiva dentro das paredes da instituição acaba por se criar uma vivência que é artificial”. Ao fim ao cabo é uma grande casa de família, onde também se cumprem regras como estudar, arrumar a roupa no armário ou ajudar a levantar a mesa depois refeições.

O dever de responsabilidade também passa para os pais e sempre que possível os menores passam as férias com a família, para não quebrar laços.

“Os menores não pagam absolutamente nada. A única coisa que nós vamos exigindo à família é que os vistam e calcem, precisamente para manter essa responsabilização”, salienta João Frazão.

Os jovens podem permanecer até aos 21 anos na instituição, mas hoje em dia é normal saírem antes de perfazer os 18 anos, porque muitos optam por ir estudar para fora por falta de oferta educativa no concelho.

Certo é que quem passa pelo Instituto Pina Ferraz acaba por lá voltar. E em quase 60 anos de história são muitos os que têm o instituto no seu percurso de vida. É o caso do director da Escola Superior de Artes Aplicadas de Castelo Branco, Fernando Raposo, ou Bruno Pereira, o jovem militar de Castelo Branco que em Junho de 2007 foi notícia ao ser alvo de uma emboscada durante o cumprimento de uma missão no Afeganistão.

“Por mais tempo que estejam sem aparecer quando aparecem é com saudade. E isso é reconfortante”, diz João Frazão.

Autor: José Furtado in jornal "A Reconquista"


Ficheiro aúdio: João Ferraz e Silvia Machado - Instituto Pina Ferraz

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá, o meu nome e Valter Humberto estive internado no Instituto´até 7º ano,estudei o ultimo ano no liceu ao lado do campo de futebol,na altura tinha acabado de ser construido,hoje tenho dois filhos já adultos e ainda hoje eu tenho o orgulho de dizer que fui ai criado e amado .O Sr. João António da Cunha Leal Frazão Castelo Branco era o director,eu gostava se possível saber um pouco mais sobre a terra e a Quinta da Devesa para assim dar a conhecer as pessoas da minha zona , que devo eu fazer para que tal seja possível. Deixo o meu msn djwalter_69@hotmail.com.É com muito orgulho e saudades que tenho da vila de Penamacor que tenho dentado talvez não da melhor maneira saber algo do meu passado e do local aonde tive a minha infância .

Anónimo disse...

Caro Valter,

Em primeiro lugar, bem haja pelo seu comentário. Os contactos do Instituto são os seguintes: Telefone - 277390010; Fax - 277390019.
Quanto a mais informações sobre Penamacor, pode consultar o site da Câmara Municipal - www.cm-penamacor.pt

Cumprimentos

Pedro F.