sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Pároco de Penamacor foi homenageado na vila



As memórias do padre Manuel Toscano

Cinquenta anos depois de chegar à paróquia de Penamacor, o padre Manuel Toscano conta como viu as mudanças a partir da igreja mas também da secretária de professor.

Manuel Ribeiro Toscano chegou à paróquia de Penamacor em Outubro de 1960 e ainda hoje tem à sua confiança as chaves da igreja. A passagem destes 50 anos de sacerdócio não passou em claro a um grupo de pessoas e de instituições locais, que se juntaram para uma homenagem realizada no último domingo.

O arcipreste de Penamacor recebeu o Reconquista na véspera e confessou a surpresa com que recebeu a notícia da iniciativa, que partiu das instituições com quem colaborou ou por onde passou. Na reacção socorre-se do Evangelho para dizer que “quem faz o que deve não merece louvores”. Mas confessa a satisfação por ver que a Igreja que representa tem uma presença activa na comunidade. A mesma que ao longo dos últimos 50 anos mudou e muito.

Penamacor, recorda o padre Manuel Toscano, tinha um relevo muito maior do que tem hoje.

“Eu poderei dizer que há 50 anos estava acima de vilas como a Idanha, Belmonte ou Sabugal”, conta no início de uma conversa que se prolongou por quase uma hora.

Nesse tempo havia mais gente, mas também um fosso que separava uma elite privilegiada de um povo que vivia com o pouco que esta lhe dava. Um fosso que se manifestava também nos costumes. “Daí haver o café que era frequentado pelos ricos e outro onde iam os pobres”, lembra o pároco.

A vila tinha também mais vida, à conta da companhia disciplinar, da PSP, da Guarda Fiscal e da própria GNR, lembra o sacerdote. Quem deixava o concelho fazia-o para fugir à pobreza.

“As classes trabalhadoras viviam muito mal, mas havia talvez mais unidade das famílias e mais espírito de entreajuda”, diz Manuel Toscano.

Hoje os tempos são diferentes, não só nos valores como também na fria realidade dos números, que os registos paroquiais também espelham. “Basta dizer que em paróquias como Benquerença ou Salvador há dois ou três nascimentos por ano e há 20 ou 30 funerais”, diz Manuel Toscano. É por estas razões que ficou surpreendido quando ainda este Verão celebrou um casamento na freguesia de Meimoa. Foi o primeiro desde 2005.

A preocupação quanto à perda de população – sobretudo os mais jovens – estende-se também ao ensino. O pároco teme que a diminuição do número de alunos, que já levou ao encerramento de algumas escolas do 1.º ciclo, possa pôr em causa a existência do próprio ensino secundário, como já se comenta.

“Oxalá seja mentira e que as forças vivas procurem por todos os meios manter”, diz Manuel Toscano, que durante anos também foi professor. Primeiro passou pelo Externato de Nossa Senhora do Incenso, depois abraçou o ensino público. Entre os que com ele se cruzaram deixou a imagem de um professor exigente, que não renega.

“Alegro-me de encontrar antigos alunos, que dizem que eu era muito exigente”, confessa, sublinhando que o rigor faz falta no ensino porque com facilitismo “não se vai a lado nenhum”. Uma máxima que acabaria por aplicar a si próprio, quando já na casa dos 40 decidiu licenciar-se em Filologia Românica. Uma vez por semana partia de Penamacor às cinco da manhã rumo a Coimbra, por estradas bem diferentes das actuais. E voltava horas depois, com a certeza que no dia seguinte tinha os fiéis e os alunos à espera para mais um dia.

Mas a passagem pela escola ficou ainda marcada pelo processo de expansão do ensino público no concelho, que durante anos se resumiu ao 1.º ciclo, a antiga escola primária.

Manuel Toscano recorda o difícil que foi alargar o ensino público até ao 12.º ano, num concelho onde já existia um colégio privado. E além disso construir uma escola para o albergar, o que foi conseguido em Março de 1984, data da inauguração da então escola C+S. Uma luta que foi ganha “com o conselho directivo a percorrer muitos quilómetros” e a chamar a atenção do presidente da República, do ministro da Educação e de outros responsáveis políticos.

Depois veio a luta por uma nova escola, diferente do pré-fabricado da C+S, algo que já foi concretizado fora do seu tempo de docência.

Hoje as lutas são também para ajudar os mais velhos, como em Benquerença, onde segundo diz “estamos agora empenhados na construção possível de um lar para idosos, porque é uma população grande e envelhecida”.


Por: José Furtado in jornal "A Reconquista"

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