terça-feira, 21 de abril de 2015

PENAMACOR: FONTES REAVIVAM MEMÓRIA COLECTIVA

Rádio Cova da Beira
Foto: Bruno Cunha

O Dia Internacional dos Monumentos e Sítios foi comemorado em Penamacor com uma visita às fontes que se encontram fora do perímetro da vila. Um passeio onde os mais velhos partilharam com os mais jovens as memórias de um património colectivo, hoje escondido pelo mato e esquecido pelo tempo, outrora fontes de água e de vida.

Que o diga Maria de Lurdes que passava os domingos a brincar ao pé da fonte. Tem mais de 80 anos e há mais de 20 que não via a fonte dos Frades, a primeira das três que contemplava a visita, a única que a fez embargar a voz “há mais de 20 anos que por aqui não passava, mas quando era garota vínhamos para aqui, ainda me lembro daquelas sobreiras onde andávamos às cambalhotas, isto estava sempre cheio de canalha, toda a gente tinha três e quatro filhos naquela altura, passávamos aqui a nossa mocidade, tempo que vai e não volta”. Mas a fonte com água ainda ali permanece, construída com grandes pedras de granito. A fonte dos Frades é a única que tem gravada na pedra a data de construção, 1685. Recuando até ao Séc. XVII em Penamacor, será fácil associar o nome da fonte à presença dos frades no convento de Sto. António “porque o convento estava nessa altura a sofrer reedificações sucessivas, por exemplo, em 1692 reedificou-se a capela-mor e poderá ter alguma ligação, digo eu, ou não”, admite Joaquim Nabais, do departamento cultural do município de Penamacor.

Desconhecendo-se a existência de um convento de freiras em Penamacor, fica assim por explicar o nome de outra das fontes visitada pelo grupo de cerca de meia centena de pessoas: a fonte das Freiras, do outro lado da vila, com um tanque junto à terra para também matar a sede aos animais.
Localizada perto da ribeira e do local de culto a Nossa Sra. do Incenso a próxima fonte fica a dever o nome à santa devota dos penamacorenses. Hoje está quase inacessível, foi preciso desbravar terreno para lá chegar, mas no tempo de Maria de Fátima era a fonte onde bebiam no dia de lavar a roupa na ribeira que ali corre ao lado. Saiam da vila carregados da merenda e da roupa suja e voltavam, já no fim do dia, com a roupa limpa e seca e até o banho tomado “lavávamos a roupa ali, ponhamos os cordéis entre as árvores e secava ali, e às vezes até tirávamos a que trazíamos e tomávamos banho com os peixes, eu adorava vir aqui, nem ia à escola nesse dia”.
Os mais pequenos ouvem as histórias não conseguindo imaginar o dia-a-dia sem água em casa ou máquina de lavar. A maioria nem conhecia as fontes e muito menos o papel que tinham desempenhado no tempo dos seus avós “pelos vistos era um tempo difícil”, admite a pequena Estela. Cumpriu-se assim o objectivo traçado pela santa casa da Misericórdia de Penamacor quando decidiu escolher as fontes para assinalar o dia internacional dos monumentos e sítios “optámos por estas fontes fora da malha urbana porque são as mais desconhecidas e as mais abandonadas, por outro lado desempenharam um papel fundamental na vida da altura, e elas hoje são praticamente desconhecidas dos jovens e por isso fico satisfeito que eles estejam aqui a conhecer um património que é de todos nós”, justifica João Alves, provedor da Santa Casa da Penamacor que em parceria com o município e a junta de freguesia promoveu a iniciativa inserida no dia internacional dos monumentos e sítios que este ano se comemorou sob o lema “Conhecer, partilhar, explorar”.

Autora: Paula Brito in "Rádio Cova da Beira"

Sem comentários: