quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Mau cheiro e água imprópria motivam queixas

Ribeiro poluído ao lado da ETAR de Benquerença

A estação de tratamento não tem capacidade para tratar os esgotos de cinco freguesias e o excesso é descarregado no ribeiro. Águas do Zêzere e Côa abriu concurso para a ampliação.

A envolvente é verde, a água corre cristalina da serra mas vai escura junto à Benquerença. Ninguém diria que a Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR) desta freguesia do concelho de Penamacor fica logo ali ao lado. Mas fica. E é por isso que Álvaro Afonso não compreende como é possível haver tanta poluição.

Este habitante de Benquerença guiou o Reconquista pelos terrenos junto do ribeiro dos Alamos, cujo leito não deve mais de três metros de largura. As águas correm muito pouco ou estão mesmo paradas, apresentando uma cor acastanhada. O cheiro não é muito intenso porque os dias estão frios. Mas ainda assim sente-se qualquer coisa.

Álvaro Afonso diz que a situação não é nova e agrava-se com a chegada do tempo quente.

“Fica a água muito negra e quando vem o vento do lado do Fundão puxa ali para as casas”, diz o homem que também tem terrenos junto ao ribeiro.

Com as chuvas das últimas semanas as águas poluídas invadiram as hortas das margens, deixando resíduos na vegetação. É o caso da propriedade de José Silveiro, que se vê impedido de utilizar parte das suas terras por se encontrarem alagadas.

“Deviam abrir o ribeiro para isto correr em condições”, apontando para as margens cobertas de silvas e outra vegetação, que serve de barreira às águas.

“O homem fazia aqui uma horta linda e agora não pode”, acrescenta Álvaro Afonso antes de prosseguir o caminho e as queixas.

“A ETAR não está a funcionar a 100 por cento e estas silvas não deviam estar ali. Se a limpeza estivesse feita as águas passavam e o cheiro era menos, penso eu”, diz, reforçando o lamento face à situação.

Apesar do incómodo causado pelo mau cheiro e a poluição, Álvaro Afonso limitou-se a abordar um dos funcionários da Empresa Águas do Zêzere e Côa e a contactar o Reconquista na esperança de ver o problema solucionado.

ETAR vai ser ampliada

A Empresa de Águas do Zêzere e Côa (AZC) assume que a ETAR de Benquerença apresenta alguns problemas, informando que já abriu um concurso para a sua ampliação “devendo o mesmo projecto ficar concluído até ao final de Março de 2010, e de imediato será lançado o concurso da empreitada para a realização desta obra”, refere em nota enviada ao Reconquista.

Embora esteja localizada na Benquerença, a ETAR recebe águas residuais provenientes de outras quatro localidades vizinhas, nomeadamente a Meimoa, no concelho de Penamacor e Salgueiro, Escarigo e Quintãs (Três Povos), no concelho do Fundão. O caudal que chega para tratamento é segundo a empresa “com alguma frequência, superior ao caudal máximo que a ETAR tem capacidade para tratar”.

“Nestas situações, quando o caudal é superior ao admissível, o excesso é rejeitado, pela descarga de tempestade, para a linha de água em que a ETAR também descarrega o efluente tratado”, esclarece a AZC.

Mas a empresa rejeita também todas as responsabilidades na poluição das linhas de água junto à ETAR dando conta que por mais de uma vez identificou “descargas localizadas de águas residuais com características não domésticas, de que é exemplo uma descarga detectada em 24 de Junho de 2009, da qual foi dado conhecimento às entidades competentes”.

Quanto à limpeza das margens – outro dos motivos de queixa – a responsabilidade é dos proprietários. Um folheto informativo emitido em Maio de 2009 pela Administração da Região Hidrográfica do Norte é claro neste aspecto: “A limpeza do leito e margens do curso de água é da responsabilidade dos proprietários marginais”.

Autor: José Furtado in jornal "A Reconquista"

Sem comentários: