quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Força Aérea na região para exercício militar

A guerra nos céus da Meimoa

O concelho de Penamacor foi um dos cenários escolhidos para o exercício Real Thaw 2010, que serviu de treino para enfrentar a realidade no Afeganistão.

É mais um dia ao seguir ao outro junto à estrada nacional que liga Penamacor à freguesia de Meimoa. Até que entram em cena os paraquedistas e começa a guerra. A expressão é dos próprios militares que até esta quinta-feira, dia 4, participam no Real Thaw 2010.

O exercício coordenado pela Força Aérea Portuguesa (FAP) envolve cerca de mil militares e 50 aeronaves portuguesas, mas também belgas, espanholas, dinamarquesas e norte-americanas. O aeródromo da Covilhã é uma das bases de operações, mas o cenário não se fica pela pista.

“A Covilhã e toda a zona em redor é muito boa para nós pilotos podermos operar, por ser montanhosa”, explica ao Reconquista o Major Carlos Candeias, da FAP. O cenário real é o Afeganistão e em Portugal - com as distâncias óbvias - “o que mais se assemelha é a zona da Meimoa, Malcata, Serra da Estrela e Guarda”.

A viagem entre a Covilhã e Meimoa é feita à boleia, de automóvel. Na descida para a aldeia do Escarigo, no Fundão, já se notam no céu algumas das aeronaves envolvidas. Não falta muito para ver também os primeiros paraquedistas.

No terreno onde tudo acontece é preciso ficar à distância, por razões de segurança. Mas a acção passa na mesma em frente aos olhos. Com a carrinha a rolar em caminhos de terra batida cruzamo-nos com um jipe com elementos armados. “É o inimigo”, esclarece a Tenente Baptista, das relações públicas da FAP. Seguimos em frente. Estacionamos e depois de atravessar um ribeiro temos em frente a guerra, ainda que a uma distância que a olho nu não deixa perceber tudo. O que vale é a lente da máquina fotográfica que serve de binóculo. Do outro lado observam-nos, mas do ar é bem provável que um dos F16 esteja a fazer o mesmo sem que nos apercebamos. Está na hora de mudar de localização.

Os aviões de combate supersónico passam praticamente despercebidos no céu azul. Estão a alta altitude e têm como missão “dar protecção a toda a área dos saltos”, explica o Major Candeias. Por lá já passou o C-295M, o avião que largou as tropas paraquedistas. O papel principal cabe agora aos históricos Alouette III, os helicópteros que são uma das imagens de marca da FAP. Estes sobrevoam o terreno em círculos, tentando proteger os seus em terra. Há um ferido no confronto e é necessário proceder ao seu resgate o mais depressa possível, não largando de vista o inimigo. Este tomou de assalto os terrenos onde ainda há minutos tínhamos estado. Ouvem-se tiros, mas além dos helicópteros vê-se pouco mais.

Na aldeia da Meimoa o exercício passa quase despercebido, ou não estivessem os moradores habituados a verem os camuflados por lá. De tempo a tempos os militares visitam o concelho para exercícios, instalando-se no campo de tiro a meio caminho entre Penamacor e Meimoa.

Este e outros exercícios realizados ao longo do Real Thaw 2010 ajudam os pilotos a afinar o planeamento de missões futuras, tendo em conta o cenário real que é o Afeganistão, uma zona também montanhosa e difícil de operar.

“Estão muitas aeronaves no ar e muitas pessoas e torna-se difícil”, diz o Major Candeias.

A máquina da FAP faz-se notar também em terra. No aeródromo da Covilhã está montado um pequeno bairro de tendas para alojar os militares. Esta logística “permite-nos operar em qualquer parte do mundo sem termos necessidade de infra-estruturas rígidas”.

Os jornalistas não são os únicos visitantes que o Real Thaw 2010 tem recebido. As escolas passaram pelo aeródromo num esforço da Força Aérea para sensibilizar os jovens, agora que o serviço de militar deixou de ser obrigatório. Na terça-feira foi a vez de o ministro da Defesa, Augusto Santos Silva, conhecer de perto as operações.

Autor: José Furtado in jornal "A Reconquista"

Sem comentários: