segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Obra apresentada nos dias da Santa Sofia

Salvador com livro do tempo dos avós

A história da aldeia de Salvador acaba de ser publicada em livro pela mão de Albertino Calamote. O autor, de 72 anos, é o mesmo do blogue Salvador Barquinha d´Oiro.
Em fim-de-semana da festa de Santa Sofia a aldeia de Salvador, no concelho de Penamacor, assistiu também ao lançamento do seu primeiro livro. A localidade era das poucas do concelho que ainda não tinha um livro sobre a sua história e tradições, lacuna agora ultrapassada pela edição apoiada pela Câmara Municipal de Penamacor e a junta de freguesia local.
A obra tem como autor Albertino Calamote, que nos últimos anos tem contando a história da aldeia na internet, através do blogue Salvador Barquinha d´Oiro (salvadorbarquinhadoiro.blogspot.com). A expressão dá também o nome ao livro, a que foi acrescentada a designação “O tempo dos nossos avós”.
Apesar de ter vivido grande parte da sua existência fora da aldeia de onde é natural, Albertino Calamote manteve sempre a ligação à terra, mesmo quando estava a milhares de quilómetros. Os primeiros escritos surgiram quando se encontrava em África, como militar na Guerra Colonial (1961-1974), onde fez quatro comissões. Nos tempos livres as alternativas não eram muitas e por isso “o nosso passatempo lá era a leitura”. Foi assim que começou a passar algumas memórias para o papel, nomeadamente sobre os usos e costumes da aldeia, sem sonhar sequer que um dia seriam editadas.
Mas o livro não é apenas o reunir desses escritos. Por detrás da obra estão cerca de dois anos de pesquisa que não foi fácil devido ao passado da aldeia. “Salvador pertenceu ao concelho de Monsanto até 1848 e portanto a história está espalhada por vários lugares”, justifica. Valeu-lhe a ajuda do arquivo de Idanha-a-Nova, a cujo responsável não poupa elogios.
O blogue também era um dos veículos possíveis para recolher essa informação, em especial com o contributo dos conterrâneos. Mas por esta via “não recebi grandes ajudas”. A barquinha continua no entanto a navegar na internet, sendo hoje um autêntico álbum de imagens com história da aldeia.
Com a pesquisa que fez para o livro, Albertino Calamote pretendia “confirmar aquilo que por aí circula e depois ir mais além com tudo apoiado em documentação”. E assim surgiram 300 páginas.

NOVA OBRA NA CALHA

O autor não quer ficar por aqui e gostava de dedicar uma obra a algumas personagens da terra. Como José Vicente Lopes - popularmente conhecido como o professor Serraninho - ou José Candeias da Silva. Deste último conta a história de cabeça e com pormenores que normalmente só cabem nos livros.
Contemporâneo de António de Oliveira Salazar e do futuro cardeal Cerejeira na Universidade de Coimbra, um amor proibido aos olhos da época levou José Candeias da Silva de volta à aldeia, onde se tornou uma das figuras de boa memória. Foi ele que por exemplo ensinou muitas crianças a ler, antes mesmo de pisarem a entrada da escola. Albertino Calamote era um desses miúdos.
Mas num livro sobre as personagens da terra haverá também um espaço reservado ao Ti Zé Violas, o antigo sapateiro da aldeia e pai de Albertino Calamote. Homem que aprendeu a ler na tropa, esteve na primeira grande guerra (1914-1918), ingressou na GNR e dela foi expulso depois de estar envolvido numa revolta, ocorrida nos anos da brasa da primeira república.
Acabou por regressar à aldeia onde lhe valeu o ofício de sapateiro, que aprendeu nos anos da guarda. Mas não era popular apenas pela sua arte.
“O meu pai ficou muito conhecido aqui na terra por ser um homem muito divertido e fazer muitos carnavais”. Era também no seu estabelecimento que as pessoas se encontravam para falar e ler o extinto jornal “República”.
Autor: José Furtado in jornal "A Reconquista"

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