quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Penamacor


Jovem desaparece misteriosamente durante festa natalícia

Fábio Gaspar afastou-se do grupo. Pouco depois ligou a uma colega a pedir ajuda.

"Venham buscar-me! Estou todo molhado e a entrar em hipotermia." Este terá sido o último sinal de vida de Fábio Gaspar, de 23 anos, que na madrugada de terça- -feira, pouco tempo depois de participar na tradição do Madeiro de Natal em Penamacor, telefonou, desesperado, a uma amiga.

O jovem, finalista do curso de Enfermagem do Instituto Politécnico da Guarda, está desaparecido desde a madrugada de terça-feira, depois de ter abandonado, sozinho, o grupo com que estava no monte a arrancar os grandes troncos de árvores que iam constituir a fogueira de Natal no centro da vila.

"Eram cerca de 04.00. Ele disse que ia dar uma volta", dizem os amigos. Na altura, ninguém se apercebeu de que Fábio Gaspar pegou na sua viatura. Todos acreditam que a sua intenção seria regressar a Penamacor, já que o trajecto percorrido coincide com esse. Às 05.15, Fábio telefonou a uma colega de curso, que a seu convite participava na tradição. É então que pede ajuda. As várias dezenas de jovens divididos em grupos pelo monte situado perto de Penamacor iniciam buscas na zona, com o auxílio de lanternas e viaturas.

O carro de Fábio acabou por ser encontrado por três rapazes às 07.15 da manhã, no meio do ribeiro, semicoberto de água. "Dá a ideia de que ele se dirigia para Penamacor, mas num cruzamento virou para o lado errado e foi parar ao ribeiro", afirma António Firmo, um dos jovens que avistaram o , branco e comercial, no meio da ribeira que, com a chuva que tem caído, leva mais água do que é normal. "O carro estava meio coberto. A água chegava aos assentos", completa.

Edgar Cruchinho, outro dos jovens que participaram nas buscas de madrugada, lembra momentos de aflição e algum pânico. "Eu não estava com o grupo do Fábio, encontrava-me mais longe. Quando eles receberam a chamada dele, avisaram toda a gente e batemos o monte."

O facto de estar escuro dificultou ainda mais a tarefa. "Socorremo-nos de lanternas e das luzes dos carros. Estávamos todos muito esperançados de o encontrar em qualquer sítio. A irmã dele estava superaflita", diz ao DN o rapaz, ainda visivelmente consternado, no momento da chegada do Madeiro à vila, ontem à tarde.

No interior do carro, confirma a GNR, não estavam a chave de ignição nem o painel do auto-rádio ou o telemóvel do jovem. O vidro do "pendura" estava aberto. Quanto a Fábio Gaspar, nenhum sinal.

Segundo o comandante do Destacamento Territorial do Fundão, ao qual pertence Penamacor, tenente João Reis, as buscas foram iniciadas após o alerta, às 08.00 da manhã, e prolongaram-se todo o dia, dentro e fora da ribeira bem como nas casas e palheiros abandonados. Juntaram-se nas operações quatro mergulhadores dos bombeiros de Idanha-a-Nova, que fizeram por três vezes buscas na ribeira, 15 bombeiros, os elementos da equipa cinotécnica da GNR (para efectuarem buscas com cães) e dez militares da Guarda Nacional Republicana. Mas não conseguiram encontrar vestígios do rapaz.

Também familiares de Fábio Gaspar se envolveram, todo o dia e parte da noite, nas buscas no monte onde desapareceu o jovem. A mãe esteve várias horas no centro de saúde a ser acompanhada. "Ele é muito carinhoso, um amor de rapaz. A comunidade está em choque e temos muita esperança de que ele apareça, de que esteja por aí perdido", conta uma das amigas da família, Conceição Martins.

A chegada do Madeiro, em tractores e carrinhas, à vila de Penamacor, ocorreu durante a tarde em ambiente de grande consternação. Não há memória de uma tragédia assim, embora seja dado adquirido que a participação dos jovens nesta tradição natalícia é feita em ambiente de grande festa, com álcool à mistura.

"A noite é fria, eles lá no monte fazem fogueira, mas já se sabe, aquecem-se com mais alguma coisa...", referiam ontem alguns dos populares. Fábio Gaspar acompanhava este ano a irmã mais nova, que fazia parte da comissão organizadora do Madeiro de Penamacor.

As buscas foram interrompidas ao início da noite e são retomadas esta manhã, garantiu o comandante da GNR João Reis.

1. O carro foi descoberto num ribeiro. Estava vazio, sem as chaves e sem o painel do rádio. O telemóvel também não se encontrava lá

2. Fábio Gaspar poderá ter-se enganado durante o caminho e atirado o carro para dentro do ribeiro que nesta altura corre mais cheio


Autora: CÉLIA DOMINGUES in "Diário de Notícias"

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