segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

José “Farragas” cumpre 100 anos no Natal

Consoada em Salvador com centenário à mesa

Nasceu na noite de Natal de 1909 e celebrou a consoada deste ano junto de familiares e amigos. José Marques, conhecido como “Farragas”, tem uma saúde de ferro e muitos amigos.

Natal que é Natal tem família e mesa posta para o convívio. Mas o Natal da família Marques teve este ano algo mais. José Marques, o patriarca, fez 100 anos a 24 de Dezembro e juntou familiares e amigos para uma consoada servida a umas boas dezenas de pessoas no salão da Junta de Freguesia de Salvador, em Penamacor.
O Zé Farragas - como é conhecido na aldeia – partiu aos 21 anos para Espanha, onde ganhou a vida nas obras do túnel na zona de Burgos. Com a pá nas mãos carregou terra para os vagões e assim, conta, “arranjámos a estrada para ir o comboio para a França”.
Voltou a casa antes de rebentar a guerra civil espanhola e com um pé-de-meia impossível de obter em Portugal. Em Espanha ganhava 30 escudos, enquanto na sua aldeia não lhe pagavam mais de cinco. Não admira que o regresso tivesse sido feito a contra-gosto.

Feitas as contas, José Marques diz que nos cinco anos que andou por terras espanholas amealhou “o dinheiro de uma casa”.

De volta à aldeia serviu em várias casas, tendo trabalhado numa delas durante 26 anos. Era aquilo que se chama um homem de confiança, tendo carta-branca dos proprietários para a venda de azeite e outros produtos da terra.

“Além da vida dele ainda ia para Espanha carregar azeitona com um macho”, conta Manuel Salvado, um dos amigos.

Depois veio a reforma e hoje passa os dias entre a casa da filha e o centro de dia da Misericórdia de Penamacor.

“Agora já não faço nada, é só comer, beber e andar”, diz. E pelo que contam os amigos e familiares, José Marques é exímio nestas tarefas. Depois do almoço costuma passar pelo café para beber um traçadinho e come de tudo.

“Às vezes não como mais porque não o apanho”, diz na brincadeira, perante as filhas que o repreendem entre risos por saberem que nada lhe falta.

“A gente está em Lisboa, mas estamos descansados”, realça Zeferino Marques, um dos filhos. Ao todo são quatro irmãos, dos quais dois vivem na aldeia. Tem ainda sete netos e seis bisnetos.

José Marques ficou viúvo há três anos e vive com uma filha que está na mesma condição, mais por uma questão de companhia do que de necessidade. Um dos irmãos conta que a filha “está trinta vezes pior do que ele” no que à saúde diz respeito.

“Está melhor do que eu, está bom de memória e anda bem”, confirma a filha Adozinda.

A cabeça funciona como poucas e ainda hoje José Marques trata da sua conta bancária.

Problemas de saúde só mesmo uma constipação ou outra. “Cheguei a telefonar para o centro de dia para marcar consultas e não vai a nenhuma”, conta Olívia Marques, a filha que vive em Lisboa. Acabou por ir ao médico que confirmou o bom estado de saúde.

Ainda hoje caminha pelas veredas da aldeia, que é tudo menos plana. “Não são todos os rapazes de 20 anos que têm energia para andar como ele”, diz o amigo Manuel Salvado.

Autor: José Furtado in jornal "A Reconquista"

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