terça-feira, 28 de julho de 2009

Espanha cede 20 linces-ibéricos para reprodução em cativeiro em Portugal

Até ao final deste ano, Portugal deverá receber 20 exemplares de lince-ibérico (Lynx pardinus), vindos de três centros de reprodução em Espanha. O Fado, o Eucalipto, a Espiga e a Erika são alguns dos animais visados por um protocolo assinado ao início da tarde de hoje entre o ministro do Ambiente e a sua homóloga espanhola em Penamacor, junto à Reserva Natural da Malcata.

Os animais – 14 machos e seis fêmeas - deverão começar a chegar ao centro nacional de reprodução de lince-ibérico em cativeiro, inaugurado em Silves em Maio, em “meados de Setembro”, disse a ministra espanhola Elena Espinosa. Será o regresso de uma espécie que foi avistada pela última vez em Portugal em 1992, na Malcata.

No entanto, a viagem terá de aguardar por condições climatéricas mais favoráveis, como temperaturas mais amenas.
A ministra espanhola sublinhou a importância da cooperação entre os dois países. “Se não contássemos com Portugal, Espanha ficaria com um projecto miniatura”.

O protocolo, no âmbito do Plano de Acção para a Criação em Cativeiro do Lince Ibérico, prevê que Portugal implemente, no prazo máximo de três anos, um programa detalhado para a reintrodução dos animais na natureza. O ministro Francisco Nunes Correia adiantou que essa reintrodução poderá acontecer dentro de três anos ou até mesmo antes. “Seguramente a Malcata será uma das primeiras regiões a considerar para reintroduzir o lince”, garantiu o ministro, para quem esta é uma “zona de eleição” para receber esta espécie, em jeito de resposta ao presidente da Câmara de Penamacor, Domingos Torrão. O autarca havia manifestado, na sessão de assinatura do protocolo, a vontade de receber linces. “O que queremos é o lince, porque o lince é de cá”. A provar, o município já registou a marca “Terras do Lince”.

Nunes Correia comentou ainda a sua satisfação por ver a conservação da natureza e da biodiversidade no centro do processo de desenvolvimento regional de Penamacor.

Mas ainda não se conhecem as regiões onde os linces serão reintroduzidos. Nunes Correia referiu, além da Malcata, a serra algarvia e Vale do Guadiana onde, aliás, também estão a ser realizadas acções de gestão do habitat.

A Reserva Natural da Malcata, criada em 1981, está a tentar aumentar a densidade média de coelho-bravo (que representa 80 por cento da alimentação do lince). Em algumas zonas conseguiu passar de um coelho por hectare para cinco, no período de 1997 a 2006. Para isso promoveu o refúgio ao abrir clareiras e plantar centeio, construiu 180 abrigos e, em 1994 e de 1997 a 2003, repovoou a zona com 1200 coelhos. Fernando Queiroz, director-adjunto do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas do Centro e Alto Alentejo, acrescentou ainda a instalação de dez cercados de aclimatação e dois cercados de reprodução. No futuro, o esforço de gestão passa ainda pela concretização do censo do coelho-bravo.

Actualmente, Espanha tem 77 linces nos seus centros de reprodução em cativeiro. Os 20 animais que foram cedidos a Portugal virão de El Acebuche (em Doñana), La Olivilla (Raen) e de Jerez de la Frontera.

Segundo explicou Rodrigo Serra, director do Centro Nacional de Reprodução, os animais vão viajar em carros fechados, com controlo climatérico, e um condutor e um veterinário. Serão realizadas paragens de duas em duas horas e serão evitadas as horas de maior calor. O responsável considera que a viagem de La Olivilla, que durará seis horas, será a mais difícil, por ser a mais longa.

Quando chegarem ao centro de Silves, os animais serão alvo de uma vigilância mais apertada durante 48 horas.

Autora: Helena Geraldes in jornal "Público"

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