quarta-feira, 13 de abril de 2011

Agricultores reivindicam nova “Reforma Agrária”

Emparcelamento da Benquerença ficou a meio e está a promover o abandono do campo. Ninguém sabe de quem é a terra. Os agricultores querem alargar as explorações e não conseguem

O TRACTOR avança lentamente sobre o prado verdejante da Quinta das Morgadas, na Benquerença, concelho de Penamacor. António Farias anda a preparar o pasto para as ovelhas, destruindo as touceiras de juncos que invadiram o prado, durante o Inverno. O depósito com o herbicida está atrelado ao tractor, enquanto um ajudante vai aplicando o produto com o pulverizador.

É Primavera. Os campos parecem rios de flores e o canto dos pássaros ilude o abandono. São cada vez menos os agricultores que resistem. António Farias é um deles. Passou quase metade da vida (vai nos setenta e picos) à espera de melhores dias para a agricultura. Primeiro, à espera do Regadio, que chegou à Benquerença em finais dos anos 80. Depois do emparcelamento. Foram décadas a fio. Muitos dos que partilhavam o sonho, deixaram de acreditar e abandonaram o campo. Outros morreram à espera. António Farias resiste mas também tem vontade de desistir. “Acreditei que a agricultura fosse avante, mas enganei-me”, diz com tristeza, olhando para a terra por cultivar. A estrutura fundiária era um obstáculo ao desenvolvimento e acreditou, (como cerca de 85% dos agricultores da Benquerença), que o emparcelamento ia trazer a desejada mudança. Engano seu!

O Ministério da Agricultura criou o banco de terra, para reorganizar a distribuição dos terrenos, atribuiu alguns lotes, mas abandonou o processo, a meio, deixando muitos hectares ao abandono e muitos imbróglios por resolver. “Após a delimitação da área a emparcelar, que saiu, em Diário da República, quando António Guterres era Primeiro-ministro, deixou de ser possível vender ou comprar na área do emparcelamento”, recorda António Cardoso, que tem uma forte ligação à terra e desejava ampliar a sua exploração.

Cinco anos depois, a transmissão de terrenos, bem como a legalização da posse da terra continuam bloqueadas e há lotes com vários proprietários lá dentro. É uma verdadeira anarquia.

Por: Lúcia Reis in "Jornal do Fundão"

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