A lista com os bens da igreja de Penamacor foi feita meses depois da chegada da República. O documento ficou esquecido numa caixa durante anos.
O auto de arrolamento com os bens da igreja matriz de Penamacor, mandado fazer menos de um ano após a proclamação da República, acaba de ver a luz do dia através de uma publicação da Casa Comum das Tertúlias.
O documento original foi encontrado por mero acaso. Há cinco anos Luís Norberto Lourenço comprou uma casa em Penamacor, onde os antigos proprietários deixaram uma caixa que guardava o arrolamento. Ao ver o documento apercebeu-se da importância do mesmo e à medida que se aproximava o centenário da República aumentou a vontade de o divulgar.
“Era um documento que fazia todo o sentido dar a conhecer, sobretudo agora”, diz Luís Norberto Lourenço, que apresentou a obra na Casa do Arco do Bispo, em Castelo Branco
O auto tem data de 6 de Julho de 1911 e é o resultado da Lei de Separação do Estado das Igrejas, que marcou os primeiros anos da República. Uma lei que, entre outras medidas, acabou com os feriados católicos, criou o registo civil e instituiu a realização de inventários dos bens paroquiais. O concelho de Penamacor foi rápido a cumprir e em menos de um mês constituiu a comissão de inventário, encarregada de o fazer.
O padre José da Costa Passos, que na época era pároco de Penamacor, não ofereceu resistência. Mas deixou o protesto verbal, mostrando-se ainda indisponível para ajudar no inventário. Os autores não deixaram escapar nada: da igreja paroquial em si até às imagens, toalhas do altar e até os bancos em madeira.
Algumas das peças mais preciosas terão vindo para Castelo Branco, onde em 1910 foi criado o Museu de Tavares Proença Júnior. Mas o autor não conseguiu confirmar quantas e quais.
O estudo não foi muito aprofundado, reconhece o autor. Mas segundo Luís Norberto Lourenço “nem este nem outro projecto qualquer está esgotado”.
A Casa Comum das Tertúlias nasceu a 5 de Outubro de 2001 e tem mais dois números da colecção papéis de sexta a caminho. O próximo, da autoria de Pedro Miguel Salvado, será dedicado à história da edição literária regional. Luís Norberto Lourenço está também a preparar uma edição sobre Aristides de Sousa Mendes, o cônsul português que salvou milhares de refugiados durante a II Guerra Mundial.
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