terça-feira, 29 de junho de 2010

Demografia


Idosos são o triplo dos jovens em 23 municípios do interior


Concelhos mais envelhecidos são Penamacor, Vila Velha de Ródão, Alcoutim e Oleiros. As localidades estão "condenadas" porque não conseguem fixar os mais novos.


O número de idosos é, pelo menos, três vezes superior ao de jovens em 23 municípios portugueses. E, nalguns casos, a população com mais de 65 anos é cinco vezes superior à dos que têm menos de 15 anos.
Os concelhos mais envelhecidos do País são Penamacor, Vila Velha de Ródão, Alcoutim e Oleiros, revela um estudo feito para o DN por Maria Filomena Mendes, docente do departamento de Sociologia da Universidade de Évora e presidente da Associação Portuguesa de Demografia (APD).
Segundo as estimativas da população residente, agora divulgadas pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), a evolução demográfica em 2009 caracterizou-se por um "ligeiro crescimento" da população residente (+ 10 463 pessoas). Uma subida explicada pela imigração, que se revelou insuficiente para inverter a tendência de envelhecimento demográfico.
A nível nacional existem agora 118 idosos por cada 100 jovens (ver caixa), número que quase quintuplica em Penamacor, onde essa relação é de 545 idosos para 100 jovens.
No Alentejo, onde nem a imigração tem conseguido conter o despovoamento -, a taxa de crescimento efectivo em 2009 foi de - 0,48 por cento - há cinco municípios entre os 30 mais envelhecidos do País. No Gavião, por exemplo, existem 437 idosos por cada 100 jovens.
Para Maria Filomena Mendes, com estes números os municípios estão "condenados" a prazo, não existindo possibilidade de regeneração natural. "São regiões com uma fertilidade muito baixa, um número de idosos muito elevado e se não conseguirem fixar os jovens que ainda lá residem e atrair imigrantes vão ter imensos problemas."
"A redução da fecundidade foi catastrófica para estas populações. E, depois, são concelhos que perderam muita população jovem em idade activa, resultado da emigração para o estrangeiro, mas, sobretudo, para o litoral do País", diz a presidente da APD.
Para além da redução do número de nascimentos - "desde há décadas que as mulheres passaram a ter menos filhos, logo há menos casais jovens e uma fecundidade cada vez mais baixa" - o aumento da esperança de vida e o regresso às origens dos que emigraram nas décadas de 70 e 80, agora já reformados, contribuem para agravar o envelhecimento da generalidade do interior do País.
"Em termos de dinâmicas demográficas, tudo contribui para que estes concelhos estejam cada vez mais envelhecidos", diz Maria Filomena Mendes.
A estas dificuldades, o presidente da Câmara Municipal de Alcoutim, Francisco Amaral, soma outras de natureza política: "É mais fácil conseguir-se o licenciamento de um prédio de dez andares em Quarteira do que de uma casa em Alcoutim, onde é tudo área protegida", diz o autarca. O município a que preside é o terceiro mais envelhecido do País (527 idosos por cada 100 jovens), apesar de se situar na região que teve em 2009 a maior taxa de crescimento populacional (+ 0,91 por cento).
"Somos o único concelho do Algarve que só tem serra e existe uma área muito grande de reserva ecológica, onde não é permitida qualquer construção. Temos casais jovens que se querem fixar e não têm espaço para construir uma casa. Alguns até têm de ir para Vila Real de Santo António. Isto não faz sentido nenhum, é uma asneira muito grande", refere Francisco Amaral, apontando o Ministério do Ambiente como o "principal obstáculo" ao desenvolvimento do município.


Autor: Luís Maneta in "Diário de Notícias"

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