sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Azahar é o primeiro animal a chegar

Lince regressa mas sem viagem marcada para a Malcata

O primeiro dos 16 animais que Espanha pretende ceder a Portugal chegou esta segunda-feira ao Algarve. A Malcata é um dos destinos prováveis dos animais nascidos em cativeiro, mas ainda há um longo caminho a percorrer.

Chama-se Azahar e é o primeiro lince a chegar a Portugal no âmbito do projecto ibérico de reprodução deste felino. A fêmea de cinco anos está desde segunda-feira no Centro Nacional de Reprodução do Lince-Ibérico, inaugurado em Maio deste ano em Silves, no Algarve.
O animal nasceu em liberdade e esteve à beira de se reproduzir, mas o “stress urbano” no parque espanhol de Jerez de la Frontera terá sido a razão para o insucesso, refere uma fonte do Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) citada pela Agência Lusa.
A chegada deste animal representa uma nova esperança para a Reserva Natural da Serra da Malcata, área protegida partilhada pelos concelhos de Penamacor (Castelo Branco) e Sabugal (Guarda). Mas hoje, como há cinco meses, ainda não é certa a vinda de animais para esta zona, apurou o Reconquista junto do ICNB.
Depois de perder o centro de reprodução para o Algarve, o concelho de Penamacor conseguiu pelo menos a garantia que a Malcata será das primeiras regiões a receber animais criados em cativeiro.
Em Julho os ministros do Ambiente de Portugal e Espanha escolheram a vila raiana para a assinatura de um acordo para a cedência de animais a Portugal, ficando a promessa que a Malcata “será uma das primeiras regiões a considerar para a reintrodução real na natureza”, afirmou na altura o agora ex-ministro do Ambiente, Francisco Nunes Correia.
A Reserva Natural da Serra da Malcata foi criada faz agora 28 anos, na década de 1980. E é desde essa altura que não há populações estáveis de lince em Portugal, apesar de alguns vestígios encontrados nos últimos anos.
"Não sabemos se não existe actualmente algum lince em Portugal. Poderão existir, mas não uma população estável. É esse repovoamento que pretendemos fazer", disse a coordenadora executiva para o Plano de Acção do lince, Lurdes Carvalho.
Mais do que vontade, o lince precisa de coelho para se alimentar. A morte destes animais, provocada por doenças como a mixomatose e a doença hemorrágica viral, levaram ao seu desaparecimento.
Nos últimos anos o ICNB conseguiu repovoar a Malcata de coelhos, chegando mesmo a reintroduzir 1200 destes animais e criando mais de 350 pastagens para alimentação do coelho bravo. Em algumas zonas a população mais do que duplicou, mas isso pode não ser suficiente, como garantiu Fernando Queirós Monteiro, do ICNB, em Julho ao Reconquista. Uma preocupação reforçada já esta semana por Márcia Barbosa, da Universidade de Évora, que em declarações à Lusa concorda que os linces sejam reintroduzidos “em zonas onde as populações de coelhos naturais sejam suficientes para os manter e não seja preciso alimentá-los artificialmente".
Em Espanha nasceram nos últimos cinco anos 40 crias de lince em cativeiro. Em Portugal os olhos estão postos em Azahar, que dentro de pouco tempo vai ter um companheiro para procriar. Os 15 linces que faltam deverão chegar durante o mês de Novembro, vindos dos centros espanhóis de reprodução Acebuche, no Parque Nacional de Donana, e La Olivilla.
Enquanto não chegam a Penamacor, a câmara municipal continua a trabalhar no projecto para um centro de interpretação do lince, uma obra com a qual pretende dar a conhecer o felino mais ameaçado do mundo, associando-o ao concelho onde fica a reserva que tem no animal o seu símbolo e razão de ser.

Autor: José Furtado in jornal "A Reconquista"

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