Nas asas de um tempo que nos fez menos e mais velhos
Mais velhos, menos população activa, famílias cada vez mais reduzidas. Retratos precisos de um Interior que continua a clamar por uma justiça que se arrisca a tardar... E a falhar. Continuamos demasiado longe das decisões
HÁ UM tempo que corre nestas veias, a seiva de uma existência colectiva que nos trouxe até longe, até aqui, ao patamar onde nos encontramos. Poderá ter sido um qualquer desvio que nos que imputou estes ditames, mas esta é, mesmo, a realidade que nos cerca. O agravamento do fenómeno do envelhecimento da população portuguesa manifesta-se em diferentes graus, mas é um sustentáculo de um tempo em que apenas 16 dos 308 municípios apresentam, em 2011, indicadores de envelhecimento inferiores aos de 2001. Entre os dois Censos à população a realidade alterou-se e adensou-se, nomeadamente na Beira Interior. Mais uma vez, as frias estatísticas abrem caminho para o quotidiano que nos rodeia. Nada com que não nos cruzemos, mas quantos tirarão ilações do que vêm?
É na zona da raia que os tons do mapa escurecem quando falamos de envelhecimento da população. Penamacor é, de resto, o concelho do país com o maior índice de envelhecimento: 599,5. Ou seja, residem nesta geografia quase 600 idosos (população com 65 ou mais anos) por cada cem jovens (até aos 14 anos). Os números são demasiado claros para ilustrar uma realidade que, afinal, nunca nos foi distante, só passando desapercebida a quem não quer ver. A tal realidade que está bastante visível em todos os caminhos que cruzam os destinos desta vasta Beira Interior, embora com densidades e tonalidades diferentes. Nas proximidades desta geografia, há, assim, o peso de um intemporal fôlego que nos conduz por entre estes espaços combalidos ao peso de uma renovação demográfica que simplesmente não se consegue alcançar. Nem sequer aproximar. Falamos de vãs aspirações contra um determinismo que se afigura de combate hercúleo. Os indicadores há muito que estão invertidos por estas terras do interior, onde parece instituído um movimento perpétuo de retracção, de esvaziamento, de enviesamentos avulso, onde poucos se conseguem intrometer. O Interior continua demasiado longe e... demasiado vazio. Porquê chatearem-se?
Centrando a leitura no Censos 2011, o Instituto Nacional de Estatística (INE) salienta que “em Portugal, a proporção da população com 65 ou mais anos é, em 2011, de 19 por cento. Este valor contrasta com os oito por cento verificados em 1960 e com os 16 por cento da década anterior”.
Destaca ainda o INE que estes números têm, naturalmente, impacto no índice de envelhecimento. Em 2011, este indicador “acentuou o predomínio da população idosa sobre a população jovem. Os resultados dos Censos 2011 indicam que o índice de envelhecimento do país é de 129, o que significa que Portugal tem hoje mais população idosa do que jovem. Em 2001, havia 85 municípios com o índice de envelhecimento menor ou igual a 100. Em 2011, este valor é de 45”.
Em Portugal, há, portanto, 129 cidadãos com 65 ou mais anos por cada cem cidadãos até aos 14 anos. Ou seja, um índice de envelhecimento de 129. Em Penamacor, como sabemos, este indicador é quase de 600. Um retrato não apenas de um concelho, mas também de uma região, embora em escalas distintas.
Estes números têm particular interferência com outro dos indicadores utilizados pelo INE:o índice de sustentabilidade potencial do município, ou seja, a relação existente entre a população em idade activa (entre os 15 e os 64 anos) e a população idosa (com 65 ou mais anos). Nos Censos de 2011, os resultados nacionais ditam que há 3,4 activos por cada indivíduo com 65 ou mais anos. Em 2001, este indicador era de 4,1.
Dos quatro menores índices de sustentabilidade do país, três deles são de municípios do distrito de Castelo Branco. Penamacor, Vila Velha de Ródão e Idanha-a-Nova apresentam um indicador de sustentabilidade potencial de 1,1. Ou seja, há cerca de um indivíduo em idade activa por cada cidadão com 65 ou mais anos. Para além do evidente retrato social que este indicador transmite, dá uma preciosa visão sobre o dinamismo económico subjacente a uma região. Estes três municípios são também daqueles que têm a mais baixa média de pessoas por família: menos de 2,2 indivíduos por agregado. Este é apenas mais um momento desta longa caminhada. Para a agonia.
(Leia toda a reportagem da edição semanal)
Por: Nuno Francisco in "Jornal do Fundão"
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